Golpe de estado ou revolução nos Estados Unidos é uma análise apressada, que está animando os teclados dos notebooks dos comentaristas, mas que fica longe da realidade naquele País. Embora o destempero dos seguidores do presidente Donald Trump seja algo até então inimaginável, não têm força para derrubar governo ou abalar seriamente o sistema institucional daquele País. As bolsas revelam o quanto isto é grave e perigoso: zero.
O próprio Mall (grande avenida diante do Congresso em Washington) já viu coisa pior em tempos contemporâneos, como as grandes marchas dos tempos de Martin Luther King ou dos hippies contra a guerra do Vietnã. Só que o pessoal ficou na porta. Quantos desceram a Avenida Pensilvânia? Pouquíssimos, comparados aos milhões daquelas manifestações dos anos 1960-70. Quantos estavam na frente do prédio?
Esta invasão da quarta-feira, 06, é o ponto fora da curva, como se diz hoje no Brasil. Alguns malucos forçaram a porta, a polícia do Congresso estava desarmada material e psicologicamente, os deputados e a segurança retiraram rapidamente os parlamentares da área e tudo acabou como acabou: uma grande palhaçada!
Ninguém duvida que Donald Trump vai pegar seu boné e entregar a caneta no Salão Oval para seu sucessor eleitor e confirmado, depois do esparramo. A novidade é que, pela primeira vez, uma candidatura de ex-presidente entrará no cardápio eleitoral daquele país. O atual presidente é um homem de comunicação, vai “causar”.
Quem conhece a América (que é o nome de fato do País, pois “estados unidos” designa sua organização federativa e “norte” sua localização geográfica) não se assusta. O que deve preocupar desses fatos são seus desdobramentos mundo afora, como disse o ex-embaixador do Brasil em Washington (1999-2004), Rubens Barbosa, presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior, talvez o mais categorizado observador da política internacional, por sua inserção como assessor e conselheiro de entidades relevantes e de grandes empresas brasileiras. Com sua habilidade diplomática, ele diz se preocupar com a influência do direitismo e populismo nas eleições europeias que se aproximam. Entretanto, o que ele quer dizer, mas não fala com todas as letras, é que essa tática poderá ser usada no Brasil.
O silêncio do Palácio do Planalto é a verdadeira preocupação do diplomata. Entretanto, ninguém espera que no Brasil se repitam esses exemplos: aqui, o presidente Jair Bolsonaro é um forte candidato, altamente competitivo, sem necessidade de ir além da conta para se manter no topo das movimentações políticas. Pelo contrário: seus adversários é que ainda estão sem rumo definido. Segundo, a Justiça Eleitoral está muito firme no seu comando do sistema eleitoral. Terceiro: desde a República Velha que a confirmação dos resultados pelo Congresso Nacional não faz mais parte da legitimação de eleições no Brasil.
Portanto, tudo o que teremos pela frente deverá ficar no terreno da retórica e do proselitismo político, como deve ser numa democracia em evolução, como a brasileira. Nos anos 1950, fatos dessa natureza levaram um presidente ao suicídio. Dez anos depois o chefe do governo deposto foi para o aeroporto. Os dois que caíram na Nova República pegaram um táxi para voltar para casa. Avançou.