Haddad herda votos de Lula e tenta fugir do custo das tramoias do PT

Na gangorra eleitoral, Fernando Haddad acordou na quarta-feira (19) virtualmente no segundo turno da corrida presidencial. O Ibope lhe deu tanta certeza que acabou se dizendo  “nesse patamar” nas entrevistas ao longo dia. Fez mais. Passou a acenar a outros concorrentes em busca de adesões para um confronto decisivo contra Jair Bolsonaro.

Esse salto alto meio que tropeçou na pesquisa Datafolha, divulgada na noite da mesma quarta-feira. Se o Ibope havia mandado pras cucuias todos seus concorrentes no segundo pelotão, o Datafolha resgatou um deles, Ciro Gomes, e deixou o páreo ainda aberto, inclusive para outros tidos como descartados.

Nesse momento, há uma evidente tendência no jogo, uma final entre Bolsonaro e Haddad. Mas é tão expressivo o tamanho de quem ainda assunta sobre em quem votar, muitos descontentes com essa suposta alternativa, que prognósticos sobre o resultado desse jogo são meros palpites.

Haddad teve um grande crescimento nas intenções de voto ao ser oficialmente carimbado como o sucessor de Lula nessa competição. Mesmo essa benção vai passar por escrutínios. É aí que mora alguns perigos.

Afora Haddad ganhar apoios e rejeições por receber o bastão de Lula, ele vai ter que pôr a própria cara em entrevistas e debates. Por seu perfil de professor universitário, com raciocínio bem articulado, avesso a provocações, parecem testes que ele tiraria de letra.

Não é bem assim. Depois do embate no Jornal Nacional, em que os entrevistadores, por exagerarem no tom inquisitivo, o favoreceram, Haddad respondeu às perguntas de Renata Lo Prete, no Jornal da Globo.

Sem nenhum enfrentamento, a competente Renata abriu  espaço para que ele vendesse seu peixe, mas, também, lhe fez algumas perguntas simples sobre as diferenças do que ele apregoa com bandeiras e posições do PT.

José Dirceu.

Aí teve saia justa.Depois de afirmar que a condenação de Lula, por corrupção e lavagem de dinheiro, foi um erro judiciário, Renata perguntou se a Justiça errou também ao condenar José Dirceu, Antonio Palocci e João Vaccari Neto, todos também condenados pelos mesmos juízes da Lava Jato.

Haddad só defendeu Lula e Vaccari.

Até se entende que ele fuja de avaliação sobre Palocci, delator ainda não oficial sobre o recebimento de dinheiro sujo para campanhas petistas. Inclusive às suas. Também é compreensível que petista algum jogue pedra em ex-tesoureiros como Vaccari e Delúbio Soares. É o receio geral de um efeito bumerangue.

Mas por que não defender José Dirceu? Afinal, depois de uma liminar do ministro Dias Toffoli, ele não apenas saiu da cadeia como, na esteira do lançamento de um livro de memórias, percorre o país mobilizando as bases petistas para ajudar a eleger Haddad.

Fernando Haddad a todo momento cita seus 7 anos de governo Lula. Em alguns deles, José Dirceu era o todo poderoso no Palácio do Planalto. Mesmo condenado no Mensalão e no Petrolão, Dirceu continua dando cartas no PT. E ajudando a militância a aceitar Haddad, tido como coxinha inclusive nas bases petistas em São Paulo.

Ao receber o bastão de Lula, Haddad teve que, além dos votos, assumir outros encargos. São a conta na Justiça do próprio Lula, José Dirceu, Vaccari e outros tantos. Vai ser cobrado na campanha. Se continuar a ser seletivo sobre quem defender nessa turma, corre risco de desagaste dentro e fora do partido.

A conferir.

 

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