O vice-presidente Hamilton Mourão troca a residência oficial do Palácio do Jaburu pelo Palácio Piratini, em Porto Alegre? Essa notícia foi publicada nesta segunda-feira no Jornal do Comércio, de Porto Alegre. Segundo o diário econômico gaúcho, está em forte articulação a candidatura do general pela coligação PRTB/Aliança em 2022. Neste caso, ele deixaria a chapa de reeleição do presidente Jair Bolsonaro, apresentando-se como alternativa para as forças de centro-direita do Rio Grande do Sul.
O general Mourão poderia contar, numa eleição direta, com o capital eleitoral do presidente Jair Bolsonaro, que seria canalizado através de seu partido Aliança pelo Brasil, em fase final de formação e legalização. Nas eleições de 2018, elegendo bancadas e governadores em vários estados, o candidato do PSL revelou-se um seguro transferidor de votos. Esse seria o handicap de um nome fortemente apoiado por ele no Rio Grande do Sul, para não correr riscos de surpresas nas urnas.
O capital eleitoral do presidente da República, no Estado, é considerável, mas não o bastante para considerar uma vitória tranquila, se não tiver um candidato muito identificado com o segmento liberal. Nas últimas eleições, no primeiro turno, Bolsonaro teve 38,60% dos votos, contra 31,32% de Fernando Haddad, ou seja, não o bastante para vencer já na largada. No segundo turno, venceu por 53,55% contra 46,45% de Haddad, uma margem razoável, mas não tão tranquilizadora como em Santa Catarina e Paraná, onde ganhou por mais de o dobro.
Governadores militares
Mourão seria uma segurança para a continuidade da situação no Palácio Piratini, sede do Governo Gaúcho. No Rio Grande do Sul, não há rejeição aos candidatos militares, como em alguns outros estados do Brasil. O RS teve seis governadores fardados em oito mandatos.
Daltro Filho (1938-39) e Oswaldo Cordeiro de Farias (1938-43), ambos generais, foram nomeados interventores, no Estado Novo. José Antônio Flores da Cunha não era general de carreira, mas ganhou o posto por uma lei do Congresso, governou como interventor, trajando uniforme, entre 1930 a 35, e eleito por voto direto entre 1935 e 37. Ernesto Dornelles, coronel do Exército, governou como interventor em 1943-45 e, depois, já general, eleito pelo PTB de 1951 a 55. Também Euclides Triches (1971-75) era coronel da reserva, e Walter Peracchi Barcellos (1966/71) coronel da Brigada Militar.
Também os presidentes da República gaúchos foram militares, inclusive Getúlio Vargas, que tinha a patente de tenente-coronel, comandante do corpo provisório da Cavalaria da Brigada Militar na Revolução de 1923, ainda que por poucas semanas. Os outros foram os marechais Hermes da Fonseca, eleito pelo voto direto, e Arthur da Costa e Silva, eleito indiretamente, e o general de exército Emilio Garrastazu Médici. João Goulart (o outro presidente gaúcho) era civil, sem passagem ativa pelas forças armadas (como piloto privado de avião tinha carteira de terceira categoria de oficial da reserva da Aeronáutica). Outros governadores foram cabos e soldados, ou segundos-tenentes do CPOR, como Tarso Genro. Mas isto não conta.
Alternância ameaça direita
O nome do vice-presidente está ganhando corpo no Estado. O segmento conservador teme uma retomada da esquerda nas próximas eleições. O Rio Grande do Sul tem a tradição de alternância no poder estadual, entre governos liderados pelo PT e o segmento neoliberal. Também é recorrente a derrota de governadores candidatos à reeleição, tanto que o atual, Eduardo Leite, tem dito que não submeterá seu nome em 2022.
O mais provável, é que Leite dispute uma vaga no Senado. O último governador reeleito foi Antônio Augusto Borges de Medeiros, na República Velha, eleito para cinco mandatos, quatro consecutivos. Depois disso, nem mesmo no regime militar as facções no poder conseguiram fazer sucessores dentre políticos do mesmo grupo integrante da própria Arena, o partido do regime militar. Pareciam governos de oposição aos antecessores.
Após a redemocratização, todos que tentaram a reeleição foram derrotados. Também todos foram candidatos e perderam. O atual conseguirá escapar da missão de sacrifício? O vice-presidente seria uma opção fora do sistema político, capaz de unificar as forças antipetistas. Essa é a aposta dos empresários que agitam o nome do general como tábua de salvação para a centro-direita gaúcha.
Segundo um empresário industrial do segmento automobilístico, de Caxias do Sul, com participação na Fiergs, o vice-presidente está formando uma forte base de apoio entre os produtores da indústria, comércio e agropecuária, como resultado de suas frequentes visitas ao Estado desde que tomou posse. Mourão tem feito viagens amiúde ao Rio Grande do Sul para debater economia em diversas entidades e grupos de profissionais.
Segundo este empresário, que pediu para não ser identificado, o general é enfático, não se apresenta como candidato, mas é crescente a aglutinação das classes conservadoras em torno de seu nome. Seria o caso desse apoio transbordar para as áreas política e entidades da sociedade civil.
ACM Neto pelo Centrão
Essa possibilidade se reforça com a possível necessidade de o presidente Bolsonaro precisar dispor da vaga de candidato a vice-presidente para reforçar sua chapa à reeleição. Neste caso, seria provável ter de passar o cargo a algum nome do Nordeste, ligado ao Centrão, especulando-se que o nome sonhado, mas ainda improvável, neste momento, seria do prefeito de Salvador, Antônio Carlos Peixoto Magalhães, o ACM Neto, do DEM. Mourão abriria mão, mas em troca receberia a participação ativa do presidente da República em sua campanha nos pampas.
Segundo o Jornal do Comércio, Mourão é um gaúcho bem típico: nascido em Porto Alegre, criado em Bagé e que fala com sotaque de Resende, onde fica a Academia Militar das Agulhas Negras. Bah, tchê!