O ex-ministro dos governos Lula e Dilma Rousseff e ex-presidente da Câmara dos Deputados, Aldo Rebelo, vai escrever o livro “A maldição das Tordesilhas” com um olhar sobre as lutas do passado pela conquista da Amazônia e outro sobre os desafios de preservação da floresta com a integração da sua população no desenvolvimento do Brasil.
O livro será estruturado em três partes. A primeira será sobre a constituição do tratado de “Tordesilhas”, feito em 1494, que dividiu a Amazônia entre Portugal e Espanha. A segunda parte são capítulos com episódios e personagens que explicam estes 500 anos de cobiça sobre a Amazônia por parte de ingleses, franceses, holandeses, irlandeses e espanhóis. A terceira parte do livro tratará das questões atuais em busca da integração da Amazônia com o resto do Brasil. A preservação da floresta, da fauna e flora é primeira prioridade dentro de um princípio de que a soberania da Amazônia é inegociável. Os povos indígenas precisam ter seus direitos à proteção plena, assim como os ribeirinhos ao desenvolvimento econômico e à infraestrutura de transportes e comunicação.
Aldo Rebelo atribui as disputas de muitos países pela Amazônia ao tratado entre Espanha e Portugal de 1494, que dividiu este território por uma linha imaginária do meridiano que passaria pelas cidades de Belém (PA) e Laguna (SC). A oeste da linha seria espanhol e ao leste, português, o que daria a Portugal uma faixa de terra muito estreita. “Os portugueses disputaram duramente a posse destes territórios com os próprios espanhóis, os ingleses, os holandeses, os franceses e os irlandeses. As Guianas que pertencem a estes países estrangeiros são remanescentes destas disputadas ferozes”, diz Aldo.
Segundo o escritor, os espanhóis tinham uma dificuldade de defender suas terras porque precisavam sair com suas tropas do Peru, subir os Andes para chegar na Amazônia. Já portugueses tinham a vantagem de poder entrar na Amazônia pelos rios.
Batalhas, expedições, roubos
Rebelo vai descrever esta disputa com dezenas de episódios e personagens desde o índio Ajuricaba, que batiza um batalhão do Exército no Amazonas, o qual resistiu aos portugueses. A expedição de Pedro Teixeira de 1637 em que ele comandava 70 portugueses e 1,2 mil índios flecheiros. A expedição de Raposa Tavares também com apoio dos índios. Sem os índios, os portugueses não teriam conquistado a Amazonas.
O livro vai abordar ainda os episódios de americanos que percorreram a calha do rio, assim como uma missão no século 19 da marinha americana. O roubo de seringueiras pelo Império Britânico no século 19. O caso da presença de uma embarcação armada norte-americana na disputa pelo território do Acre. A própria conquista do Acre que aconteceu com enfrentamento com os Estados Unidos e o Império Britânico.
Quando virá a posse da floresta?
Rebelo estará indo a Altamira, maior município do Brasil com 159 mil km quadrados, para colher informações que vão fazer parte do capítulo sobre preservação da floresta, fauna, flora com a ideia de integração e desenvolvimento da Amazônia. Ele pretende falar com povos indígenas, ribeirinhos, agricultores, autoridades, pesquisadores das universidades da região e, especialmente, consultar os cientistas do museu Emílio Goeldi, de Belém (PA), para consolidar uma proposta de defesa da Amazônia com a preservação da natureza com integração geográfica e economicamente com o resto do País.
“O que chamo de maldição de Tordesilhas é que os portugueses nos legaram de direito a esta área da Amazônia e o Brasil nunca tomou posse de fato destas terras. Nunca integrou demograficamente, economicamente a Amazônia ao resto do Brasil. Nem com infraestrutura. A Amazônia continua sem estradas, ferrovias, sem infovias e internet”, lamenta Aldo.