No domingo 38 milhões de eleitores, espalhados em 57 cidades brasileiras. voltam às urnas para escolher o novo ou o velho prefeito. Dou graças a Deus por não fazer parte desse grupo, afinal, pelo menos nas grandes capitais onde haverá segundo turno, as opções são muito pouco palatáveis, diria mesmo, difíceis de engolir.
Estão duvidando, caros leitores? Então vejam uma pequena mostra do que os eleitores terão que enfrentar domingo. Começando pelo Rio de Janeiro, onde a situação está mais definida eleitoralmente – não há dúvidas sobre a vitória de Eduardo Paes.
Apesar de parecer uma eleição tranquila, é, com certeza, o exemplo que melhor expressa o grave dilema da população que terá que escolher entre o ruim e o pior para administrar a cidade pelos próximos quatro anos.
De um lado o inepto Marcelo Crivella que, além de uma administração desastrosa, o que lhe rendeu uma gigantesca rejeição pelos eleitores, ainda é acusado pelo Ministério Público do Rio de chefiar um esquema de peculato, fraude e lavagem de dinheiro, num caso envolvendo o empresário Rafael Alves.
Do outro, o ex-prefeito Eduardo Paes, réu na Justiça Eleitoral, acusado pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica eleitoral. De acordo com a denúncia do Ministério Público Eleitoral, aceita pela Justiça, Paes teria recebido R$ 10,8 milhões de caixa dois para sua campanha à prefeitura do Rio em 2012, pagos pela empreiteira Odebrecht. Se confirmada, a vitória de Paes não será a favor dele, mas contra o atual prefeito.
Em São Paulo a disputa continua acirrada e os eleitores podem surpreender na urna. O atual prefeito Bruno Covas tem uma pequena vantagem em relação ao adversário, mas, além de uma administração medíocre, ainda carrega nas costas o fardo pesado do governador João Dória, com alta rejeição entre os eleitores paulistanos.
Covas enfrenta também o desgaste de pertencer ao PSDB, um partido que tem entre os seus expoentes alguns nomes envolvidos em acusações de corrupção e caixa dois eleitoral.
O adversário Guilherme Boulos reacendeu a chama da esquerda e tem mobilizado as redes sociais Brasil afora. Parece uma novidade, mas não apresenta soluções inovadoras para os velhos problemas de uma metrópole com os problemas de São Paulo.
Para muitos analistas, além da fama de radical, pesa contra o candidato do PSOL o total desconhecimento sobre administração pública. Isso fica evidente nas propostas que apresenta para a cidade. Muitas delas são inexequíveis e os eleitores já estão cansados de promessas não cumpridas.
Talvez pela falta de ânimo em relação aos candidatos, a abstenção tenha chegado a quase 30% no primeiro turno, mesmo com 13 nomes à disposição dos eleitores.
Neste domingo, com apenas duas opções na urna, é possível que esse número seja ainda maior, afinal, a multa para quem não votar é de apenas R$ 3,50, mais barato que um cafezinho na esquina. O mais difícil era enfrentar a fila do banco para pagar. Com o Pix, nem esse problema o eleitor ausente terá mais.
Na região Nordeste, o que vem chamando a atenção do resto do país é a disputa entre os primos Marília Arraes e João Campos. A briga é para ver quem mantém o poder no estado, que há anos está nas mãos da família Arraes e seus aliados.
A petista começou o segundo turno em vantagem, chegando a abrir boa margem de votos em relação ao primo adversário. Mas, o vazamento de um áudio do deputado federal Túlio Gadelha, no qual ele diz ter recebido sugestão de Marília para fazer caixa dois com salário dos funcionários do gabinete, foi o estopim pra fazer sua candidatura despencar. Enrolada no esquema das rachadinhas, Marília é investigada pela Justiça em um processo de improbidade administrativa pela contratação de funcionários fantasmas na época em que era vereadora do Recife, pelo PSB, nos anos de 2014 e 2017.
O processo estava parado, mas como em campanha tudo se movimenta, o juiz Gomes da Tocha Neto, do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), expediu, esta semana, uma ordem de notificação para a candidata, reascendendo o caso.
João Campos, por sua vez, embora seja recém-saído dos cueiros, representa a continuidade de um esquema de poder que dura décadas em Pernambuco. Há algum tempo esse esquema vem sendo acusado de envolvimento em corrupção. Primeiro no esquema do Petrolão e agora com denuncia de desvios na compra de respiradores para o atendimento dos pacientes da covid-19.
É por essas e outras que os eleitores terão uma difícil missão no próximo domingo. Uma verdadeira escolha de Sofia. Vencerá quem tiver rejeição menor.