Como diria doutor Ulysses Guimarães, o ainda presidente Jair Bolsonaro e sua trupe mais radical estão fazendo piquenique na cratera do vulcão. Uns pela ação, outros por cúmplice omissão, todos são responsáveis pelo inacreditável cenário de violência em Brasília antes da posse de um presidente da República, queiram ou não, legitimamente eleito pela maioria dos brasileiros.
Até a Praça dos Três Poderes, tida como a área mais segura do país, parece um queijo suíço por tantos furos de segurança. Nesse domingo de Natal, estimados 25 indígenas romperam todas as barreiras de segurança e fizeram um protesto embaixo das marquises do STF contra a prisão do dublê de pastor evangélico bolsonarista e cacique indígena José Acácio Serene.
Foi com essa mesma alegação que há 13 dias, na noite da segunda-feira (12), um grupo dos bolsonaristas que estão até hoje acampados em frente ao Quartel General do Exército, localizado no Setor Militar Urbano, espalhou horror no Centro de Brasília. Pôs fogo em carros e em ônibus, tentou até jogar um deles do alto de um viaduto, e atacou a sede nacional da Polícia Federal. Com todas essas barbaridades, na região mais policiada da cidade mais policiada do Brasil, simplesmente ninguém foi preso pelos efetivos da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros ali presentes.
Essa omissão deu gás à escalada da violência por esses radicais bolsonaristas. Por muito pouco não resultou em tragédia nesse sábado (24), véspera do Natal. Uma bomba com dinamite foi colocada em um caminhão de combustível carregado de querosene, o mais explosivo, no acesso ao aeroporto de Brasília, um dos dois mais movimentados do país. Se explodisse ali, com toda a movimentação extra pelo Natal, eles teriam conseguido a proclamada intenção de gerar o caos, agravado com as planejadas explosões de subestações elétricas que fornecem energia para áreas bastante povoadas, no delírio de provocar uma intervenção militar que impedisse a posse de Lula.
Como as investigações começam a revelar, há um contingente de golpistas com perigosos arsenais de armas à solta em Brasília, cidade que também se prepara para receber centenas de milhares de pessoas para as festas da posse de Lula. Se nada for feito, é juntar a faísca com a pólvora. Mas quem pode impedir isso?
Na maior irresponsabilidade, o entorno de Jair Bolsonaro continua apostando no caos. O silêncio de Bolsonaro sobre todas essas maluquices é entendido como um sinal verde pra seguirem em frente. Seu ministro da Justiça, Anderson Torres, limita-se a dizer que “é importante aguardarmos as conclusões oficiais, para as devidas responsabilizações”. Numa inversão de papéis, seu sucessor Flávio Dino, antes mesmo de assumir o cargo, tomou conta do leme e reorganiza o esquema de segurança, inclusive da festa da posse, para evitar que ocorra uma grande tragédia.
Em meio a toda essa tensão, talvez por medo de ser preso em caso de confusão, o clã Bolsonaro cai fora do país. No sábado (24), Carlos Bolsonaro, o Carluxo, puxou a fila ao embarcar no Galeão em um voo para os Estados Unidos. Nem a tempestade extrema que está causando um caos nos aeroportos de lá o fez mudar de rota. Assessores de Bolsonaro dizem que ele também segue o mesmo destino para passar o reveillon no condomínio Mar-A-Lago, propriedade de Donald Trump em Palm Beach, na Flórida.
Alegam que com a viagem ele evita passar a faixa presidencial para Lula. Pode ser. Mas também pode ser puro medo de alguém que segue botando fogo no país e receia sair queimado.
A conferir.