O ministro da Justiça, Flávio Dino, talvez sem saber metade da missa, cantou a bola: o medo de Jair Bolsonaro e dos seus de irem pra cadeia é porque sabem o que fizeram no verão passado. Mas preocupante é que sabem também sobre o que tá rolando no atual quente e chuvoso verão, que vai até 20 de março.
Na noite dessa sexta-feira (3), uma bem fundamentada reportagem do Estadão revela o passo a passo de uma penca de crimes cometidos por Bolsonaro e seu governo na tentativa de passar pela alfândega joias, avaliadas em R$ 16,5 milhões, presentes da ditadura da Arábia Saudita pra Michelle Bolsonaro.
Todas as peças em diamantes, inclusive um relógio que seria destinado a Bolsonaro, foram barradas como suspeitas na Alfândega de Cumbica. Pela legislação brasileira e do mundo afora, elas teriam de ser declaradas ao Fisco. Não foram. Acabaram flagradas em mochila de um militar da comitiva do almirante Bento Albuquerque, então ministro das Minas e Energia, que voltava de missão oficial à Arábia Saudita. O ministro tentou resolver a parada com uma carteirada. Não deu certo. Tentou uma carta que supunha de maior valor dizendo que o presente seria pra Michelle Bolsonaro. Também não colou.
Bastava declarar que era um presente oficial para o Brasil. Seria o fim do problema, pois passaria a fazer parte, como outros tantos, do patrimônio nacional, uma praxe nas relações internacionais. A questão é que, para eles, não era. O casal Bolsonaro entendia que era um presente pessoal, para o usufruto deles.
Não quiseram cumprir a lei. Partiram para um escandaloso uso da máquina pública para liberar o contrabando das joias milionárias. Seguiram usando e abusando dos órgãos de governo, inclusive da Fazenda, Minas e Energia e Relações Exteriores. Nada deu certo. Os fiscais da Receita seguiram barrando a ilegalidade, afinal é para isso que, concursados, chegaram lá.
No final de dezembro, já com voo marcado para a fuga pra Miami, Jair Bolsonaro se desesperou e espalhou suas digitais em busca do butim. De acordo com o Estadão, em 28 de dezembro, Jair Bolsonaro teria enviado um ofício à Receita Federal pedindo a devolução das joias ( 1 colar, 1 anel, 1 relógio e 1 par de brincos de diamante), mas recebeu outra negativa.
No dia seguinte (29), véspera da viagem do casal Bolsonaro aos Estados Unidos, o sargento da Marinha Jairo Moreira da Silva, então chefe da Ajudância de Ordens da Presidência da República, desembarcou de uma avião da Força Aérea Brasileira em Guarulhos com o propósito de reaver as joias. De acordo com a FAB, a viagem era “para atender a demandas do Senhor Presidente da República naquela cidade”.
Foi com essa credencial que o sargento Jairo Moreira alegou que estava em missão oficial para “atender demandas” da gestão Bolsonaro. Segundo o Estadão, ele tentou convencer os fiscais alfandegários de que a ordem é que “não pode ter nada do (governo) antigo para o próximo, tem que tirar tudo e levar”. Bateu com a cara na porta.
A Receita Federal não atendeu o pedido e manteve as joias apreendidas, cumprindo a lei. Na noite da sexta-feira, depois que estourou o escândalo, os Bolsonaros, na toada de sempre, tentaram tirar o corpo fora. “Quer dizer que eu tenho tudo isso e não estava sabendo? Meu Deus! Vocês vão longe mesmo, hein?! Estou rindo da falta de cabimento dessa imprensa vexatória”., tentou driblar Michelle Bolsonaro.
Se todo esse enredo for efetivamente comprovado, é mais uma séria encrenca pro casal Bolsonaro, que já responde a um monte deles. O difícil aqui ou escondido no exterior é conseguir escapar. O cerco se fecha.
A conferir.