A nova pesquisa do DataFolha pôs na berlinda o jogo de nós sem eles, protagonizado por Lula e Bolsonaro, para que a corrida presidencial seguisse apenas como um páreo entre o atual presidente e o ex-presidente da República. Empacou porque Bolsonaro, com o maior estelionato eleitoral em tempos democráticos, cresce pontinhos aqui e ali, mas não consegue baixar sua rejeição.
Por sua vez, a tática de jogo parado de Lula, que ultrapassou a amistosa barreira do JN, trumbicou no debate da Band. Ali, Lula fingiu que não ouviu quando Bolsonaro o chamou de ladrão. Ciscou por um lado e por outro, em papo de “encantador de serpente”, na definição de Ciro Gomes, e saiu quase tão derrotado no debate quanto Bolsonaro.
Com favoritos tão frágeis em um debate para o qual intensamente se prepararam, uma parcela de eleitores começou a olhar para outros candidatos. Na fotografia do Datafolha, Ciro ganhou algum fôlego e Simone Tebet deixou de ser nanica.
O pesquiseiro Mauro Paulino, ex-diretor do DataFolha, chamou a atenção para um detalhe inusitado: com a exposição, Simone ganhou pontos, mas, ao contrário da lógica habitual, em que candidatos ao se tornarem mais conhecidos ampliam suas intenções de voto e também a rejeição, a dela caiu.
Mesmo com essas pequenas mudanças, o que se pode descortinar até agora é que a tendência é persistir a polarização entre Lula e Bolsonaro, com vitória de Lula em algum dos dois turnos. O que pode mudar, e será bom para a opção do eleitor, é Lula reagir com explicações quando chamado de ladrão, e Bolsonaro responder sem xingar quando acusado de roubo de dinheiro público e genocídio.
Como se saíram mal no primeiro debate, Lula e Bolsonaro ameaçam não ir aos próximos. É um jogo maroto. Parece evidente que, com todo o estelionato eleitoral, o país quer dar um cartão vermelho para Bolsonaro. Mas também não quer dar cheque em branco pro Lula, por todos os problemas de corrupção nos governos petistas.
É aí que Ciro Gomes, Simone Tebet e até Soraya Thronicke, que tem bom tempo na propaganda no rádio e na TV, entram em campo. Se essa toada for intensificada, cada um deles pode aumentar o cacife de votos, conquistando um peso maior do que o previsto nas eleições. Simone e Soraya podem tirar votos de Bolsonaro e Ciro de Lula.
Nessa equação, mesmo que mantenha seu favoritismo nos dois turnos, quem tem mais a perder é Lula. Bolsonaro é um franco atirador desvairado, que sonha em se manter no poder e tem pesadelos de ir em companhia de seus filhos para a cadeia. Lula precisa parar de fazer cara de paisagem quando cobrado por corrupção.
A conferir.