Nos meios jurídicos e políticos, o afastamento de um governador por liminar monocrática de um ministro do STJ chocou muita gente, que considera o ato flagrantemente ilegal. Há também, nessas esferas, uma inquietante desconfiança de que, não fosse o governador afastado do Rio, Wilson Witzel, um inimigo figadal do presidente Jair Bolsonaro, talvez sua cabeça não tivesse rolado tão sumariamente. Nenhuma dessas percepções, porém, parece que vai salvar Witzel do destino traçado no roteiro, que prevê afastamento temporário seguido de impeachment.
No fim de semana, o governador afastado entrou com um pedido de habeas corpus no STF pedindo para ser restituído ao cargo, mas é possível que a ação seja levada ao plenário apenas na quarta-feira, na melhor das hipóteses. No Supremo, estaria, nesse caso específico, prevalecendo o bom senso de se evitar decisões individuais que tornem o caso ainda mais confuso. Como o plenário do próprio STJ deve se reunir amanhã para examinar o caso, e haveria uma tendência de se confirmar a liminar de Gonçalves, o Supremo deve esperar.
Seguido esse roteiro, o próximo passo será o impeachment, e em alguns meses o ex-juiz eleito para governar o segundo estado do país será carta fora do baralho. Wilson Witzel parece ter se tornado o político mais solitário do mundo, e não há voz que se levante para defendê-lo. De fato, a investigação apresentada pelo MPF, ainda que muito conveniente para Jair Bolsonaro, traz elementos para lá de suspeitos sobre a conduta no governador em um ano e meio no cargo, sobretudo na área da Saúde.
Esse não parece ser, porém, o principal problema de Witzel. Outros governadores foram acusados e continuam noa cargos. Há, aliás, dezenas de políticos em situação pior. O governador afastado do Rio parece ser mais um daqueles casos de arrogância política que leva ao fundo do abismo.
Eleito na onda conservadora da “nova política” bolsonarista com a receita de acertar os bandidos “na cabecinha”, Witzel já chegou ao cargo — um dos mais complicados da política brasileira nos dias de hoje — mordido pela mosca azul. Falastrão, não fez política e achou que se seguraria com o marketing policial. Tão encantado de si mesmo ficou que tornou-se pré-candidato à presidência da República com menos de seis meses de mandato como governador. E ainda foi contar isso para Bolsonaro. Se não fosse por corrupção, mereceria perder o mandato por falta de noção.