O avanço da pandemia causa estragos no país inteiro, mobiliza todas as forças políticas, econômicas e sociais, mas não é uma questão prioritária no Palácio do Planalto. Ali, o esforço é para conseguir algum tipo de arranjo que mantenha o pau mandado general Eduardo Pazuello com foro privilegiado, para preservá-lo no mundinho judicial de Brasília que raramente pune alguém. É uma espécie de passaporte para o paraíso ambicionado por todos acusados de crimes por colarinho branco. Todos eles almejam uma justiça diferente da que julga os cidadãos comuns.
Parece e é um escárnio. Há quase um mês todo dia o país registra recordes negativos no número de casos e de mortos pela Covid-19. É nesse caldeirão que há mais de uma semana foi anunciada a troca no comando do Ministério da Saúde do general Eduardo Pazuello pelo médico Marcelo Queiroga. Ficou vagando por aí. O que parecia uma possível mudança se dissolveu no ar. Em uma transição maluca, quem ainda dá as cartas no ministério é Pazuello, que segue obediente às ordens malucas de Bolsonaro.
Antes mesmo de assumir, Queiroga é diariamente desidratado pelo Palácio do Planalto e pela milícia digital de Bolsonaro. Virou uma espécie de morto vivo em Brasília. Dizem no governo que ele deve assumir na próxima quinta-feira. Que ele é a questão menos levada em conta. Alegam que o problema é alocar Pazuello para algum cargo com foro privilegiado. A mais recente tentativa foi nomeá-lo chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, que tem status ministerial e garante o tal foro privilegiado. Mas ela está hoje sob comando do almirante Flávio Rocha, que também está quebrando um galho na Secretaria de Comunicação Social.
A relação com a imprensa não é a praia dele. O almirante não gostou nada da ideia de transformar o bico na sua atividade principal. Com alguma razão, ele se considera por sua formação profissional mais apto para avaliar questões estratégicas do que se virar nos trinta com jornalistas. Com sua reação negativa, conseguiu melar esse segundo delírio de Bolsonaro. O primeiro foi mudar as regras de promoção no Exército, fazer de Pazuello a primeira exceção entre generais de intendência a chegar a quatro estrelas. Bateu de frente com o Alto Comando do Exército.
A terceira alternativa que ainda está sendo costurada é criar um Ministério da Amazônia para Pazuello. Na cabeça oca dos bolsonaristas, essa alternativa teria também a vantagem de tirar a única função de governo atribuída ao vice-presidente da República, general Hamilton Mourão. É tiro no pé. Com a crescente adesão na sociedade às propostas para tirar Bolsonaro da Presidência da República, brigar de maneira tão explícita com um vice com boas relações com os militares não parece inteligente. Mesmo para quem proclama que só Deus o tira do cargo antes do final do mandato, essa aposta de Bolsonaro é no mínimo arriscada.
A conferir.