Jair Bolsonaro não é Michel Temer e, pelo que se sabe até agora, o caso Queiroz não tem, ao menos ainda, a dimensão que o caso JBS teve no governo do antecessor — que costuma atribuir à sua eclosão o fracasso na votação da reforma da Previdência no Congresso. Mas é óbvio que fragiliza o presidente da República nas negociações com o Legislativo, com os aliados e dentro do próprio governo. Sem falar no quesito opinião pública, que costuma se mover mais vagarosamente.
Quem está no alvo agora não é só um ex-assessor, é o filho do presidente, senador eleito Flávio Bolsonaro. E o primeiro efeito colateral imediato da crise é a perda de força do Planalto nas eleições para o comando do Legislativo, notadamente do Senado.
Não por acaso, Renan Calheiros saiu em socorro e quase pegou no colo o jovem senador na revelação de novos dados de relatórios do Coaf sobre sua movimentação financeira. Flávio era um dos principais opositores a seu nome na eleição para a presidência do Senado e tudo indica que chegará lá fraco, sem condições de atrapalhar.
Da mesma forma, o Planalto tende a se enfraquecer nas negociações com a Câmara para dar celeridade à reforma da Previdência. Com o desgaste do caso Queiroz, que será alvo de um pedido de CPI por parte da oposição, tudo vai ficar mais caro no Parlamento. Os líderes e caciques partidários, esnobados por Bolsonaro num primeiro momento, quando preferiu negociar com bancadas temáticas, vão aproveitar a ocasião para tirar as contas das gavetas e, finalmente, ter o presidente nas mãos. Afinal, bancadas temáticas não impedem CPIs nem votam Previdência.
O processo de enfraquecimento presidencial, ainda que escamoteado, deverá ocorrer também dentro do governo. Cresce a importância da ala militar como fiadora e garantidora, e o capitão terá que ouvir mais e mais os generais. A palavra tutela voltou a ser bastante pronunciada nas últimas horas.
Não se sabe ainda como o caso Queiroz vai evoluir, se é que vai. Mas dificilmente será estancado com as explicações que Flávio Bolsonaro apresentou nas entrevistas deste domingo. Já houve certo efeito de corrosão nas redes sociais entre seguidores dos Bolsonaro e a pergunta hoje é sobre o impacto dos arranhões ao discurso anti-corrupção na popularidade presidencial. A lua-de-mel pode acabar mais cedo.