Caso Bebianno: uma história mal contada

Bebianno, Onyx e Bolsonaro. Foto Orlando Brito

Presume-se que Jair Bolsonaro saiba por que está demitindo Gustavo Bebianno e que este saiba por que está sendo demitido, embora diga que não. Quem não sabe de nada somos nós, que engolimos a conversa que passa pela ciumeira do filho 02, pelo jogo de empurra em torno do laranjal de candidatas do PSL e pela quebra de confiança gerada por vazamentos mútuos de conversas palacianas. É evidente que há mais, possivelmente muito mais, na história dessa demissão mal contada – e até agora mal executada.

Gustavo Bebianno . Foto Orlando Brito

A denúncia da Folha de má-gestão dos recursos do fundo eleitoral, até como ponta do iceberg, é um ingrediente da receita, mas não o elemento suficiente. Se assim fosse, o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, até agora intocado, também estaria na marca do pênalti.

Ministro do Turismo, deputado federal Marcelo Álvaro Antônio, Foto Valter Campanato/Agência Brasil

Evidentemente, há muito mais por aí, como até registramos aqui ao falar dos “Milhões de motivos do P$L” na semana passada. Se as investigações pedidas por Bolsonaro sobre o próprio partido avançarem, isso pode vir à tona.

Reunião da antiga UDN, fundada em 1945

E justificaria até a suposta decisão da família Bolsonaro de tomar distância e trocar o enrolado PSL por um novo partido, uma suposta nova UDN, conforme informou o Estadão no fim de semana. Seria, quem sabe, o início de uma nova narrativa, na qual o presidente e seus filhos, insatisfeitos com as mazelas do partido pelo qual se elegeram, vão buscar outra turma.

O problema é que presidente da República não muda de partido nem de turma assim como quem troca a chuteira pelo chinelo Rider. Deixar ex-aliados magoados e bem informados no caminho é a melhor receita para a queda – e que o digam todos os que caíram na história recente do país, sempre com contribuição decisiva e muito maior de gente de casa do que de adversários.

Jair Bolsonaro com os filhos. Foto Antonio Milena

Bolsonaro parece só agora estar percebendo isso, e não terá outra explicação para o fato de vir prolongando a novela da demissão de Bebianno desde sexta-feira, quando teria decidido em definitivo exonerar o ministro.

Só que, depois do desgaste e da série de trapalhadas que marcaram os últimos dias, não há mais solução boa para Bolsonaro. A demissão, ou até uma improvável reconciliação, será sempre uma história mal-contada, prato cheio para aliados pouco confiáveis e adversários.

 

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