Na vida e na política há limites que sempre cobram um alto preço quando ultrapassados. Foi o que fez Jair Bolsonaro no vexame com diplomatas estrangeiros, em pleno Palácio da Alvorada, na amalucada pregação contra as instituições democráticas brasileiras. Evidente que tamanho destrambelho causaria fortes reações. De todos os lados. Aqui e lá fora.
A reação imediata de ministros do Supremo e do TSE, puxada pelo ministro Edson Fachin, e endossada por juízes de todas as instâncias e por dezenas e dezenas de instituições e associações, algumas até então muito discretas em seus pronunciamentos, deram um cartão vermelho para os delírios golpistas de Bolsonaro e sua trupe.
Além dessas manifestações públicas, também foram relevantes recados que chegaram ao STF de generais do Alto Comando do Exército de rejeição a qualquer tentativa de virada de mesa nas eleições presidenciais, com a cumplicidade de generais da reserva bolsonaristas. Ou seja, vão bater continência a quem sair vitorioso nas confiáveis urnas eletrônicas. Seja Lula, Bolsonaro, Ciro Gomes, Simone Tebet…
O fiasco com os diplomatas, qualificado pelo comando da campanha à reeleição como tiro no pé, motivou duas manifestações do governo dos Estados Unidos. “Eleições vêm sendo conduzidas pelo sistema eleitoral brasileiro, capacitado e já testado, e pelas instituições democráticas com sucesso por muitos anos. Então ele é um modelo para nações deste hemisfério e além”, afirmou Ned Price, porta-voz do Departamento de Estado americano, em pronunciamento à imprensa em Washington nessa quarta-feira (20). “Como um parceiro democrático do Brasil, vamos acompanhar as eleições de outubro com grande interesse e expectativa total que sejam conduzidas de forma livre, justa e confiável, com todas as instituições agindo segundo seu papel constitucional.” Aviso dado.
Nesse quesito diplomático, além do vexame internacional, da péssima repercussão na imprensa do mundo inteiro e nas redes sociais, Bolsonaro apanhou também da Associação dos Diplomatas Brasileiros, que reúne embaixadores e diplomatas brasileiros de todos os escalões. “A ADB reitera sua plena confiança na Justiça eleitoral brasileira e no sistema eletrônico de votação no País”. Tão ou mais discreta que a ADB, a União dos Profissionais de Inteligência de Estado da ABIN também divulgou nota nessa quarta-feira defendendo a lisura do processo eleitoral brasileiro e a segurança das urnas eletrônicas.
Eles sabem bem do que falam. Tem digital dos técnicos da ABIN na segurança das urnas eletrônicas desde a sua concepção nos anos 90 do século passado. Diz o comunicado da Intelis: “Ao longo de toda a história da utilização da urna eletrônica, os profissionais de inteligência de Estado têm prestado apoio técnico especializado à Justiça Eleitoral no fornecimento e implementação de sistemas e dispositivos criptográficos, que contribuem para a autenticidade, confidencialidade e inviolabilidade dos programas e dados das urnas utilizadas no país. A criptografia de Estado e os sistemas de assinatura digital desenvolvidos e aperfeiçoados por nossos servidores fazem parte do ecossistema completo de barreiras que tem resistido com sucesso às diversas tentativas de ataque executadas durante testes públicos de segurança da plataforma, como reconhece publicamente o Tribunal Superior Eleitoral”.
Como os profissionais da ABIN, os técnicos do Ministério Público e da Polícia Federal integram a rede que fiscaliza a segurança das urnas eletrônicas. Todas as entidades funcionais dessas corporações também reagiram às levianas suspeitas de Bolsonaro.
No caso do Ministério Público, foi uma rara e avassaladora unanimidade. Cobranças diretas ao procurador-geral da República, Augusto Aras. Algumas ele tem até a obrigação legal de responder, como a notícia-crime apresentada pelo procurador federal e os procuradores regionais dos direitos humanos. Até agora, só o próprio Aras ficou calado. Vai ter que se manifestar até porque vai ser cobrado pela ministra do STF Rosa Weber, relatora do pedido de uma dezena de parlamentares de oposição para a investigação dos ataques de Bolsonaro ao sistema eleitoral brasileiro na reunião com embaixadores.
Tome tenência, Aras. Seja procurador-geral da República!
A conferir.