Nesta segunda-feira (11), o Jornal do Comércio de Porto Alegre publicou uma matéria sugerindo que o formato político do presidente Jair Bolsonaro, caso ele consiga registrar e chefiar seu partido Aliança pelo Brasil, será o modelo do caudilhismo hispano-americano. A reportagem saiu na coluna “Repórter Brasil”, assinada pelo jornalista Edgar Lisboa.
Em matéria de caudilhismo, os gaúchos são autoridade. Vale a pena repetir (com autorização do autor) sua reflexão.
Lisboa inicia com um título ousado:” Bolsonaro imita Getúlio”. E segue sua análise: “Nasce um caudilho? Esta era a pergunta que se fazia em Brasília nos corredores semidesertos do Congresso Nacional, pelos raros parlamentares que se encontravam na Capital, ao saberem que o presidente da República, Jair Bolsonaro, vai botar o pé na estrada e captar nas ruas, pessoalmente, as 300 mil assinaturas que faltam para completar as necessárias ao registro no TSE de seu partido Aliança pelo Brasil, até a data fatídica de 15 de março. Com isto ele inscreve-se na história do Brasil ao lado de Getúlio Vargas, um presidente que também criou um partido para ele próprio enquanto era presidente, o PTB.
Não é usual no mundo dos presidentes, eleitos ou não, criarem eles próprios partidos políticos. Quando isto acontece, estabelece-se o que se chama de caudilhismo, um formato de liderança política muito própria da América do Sul hispânica, mas que teve, no Brasil, o exemplo de Getúlio Vargas, que chefiou pessoalmente a criação e o desenvolvimento do Partido Trabalhista Brasileiro, cujos remanescentes e herdeiros hoje dispersam-se por todo o espectro político da esquerda não ortodoxa à direita tradicional.
Bolsonaro vai seguir a mesma trilha de Vargas, ou seja, seu partido sai do nada, sem fusões nem aquisições de legendas falidas, aglutinado seus adeptos em torno de sua pessoa e de suas ideias. Getúlio criou o PTB a partir de bases sindicais e de seguidores ideológicos fiéis, sem ligação com estruturas anteriores. Ele abrigou seu sistema de apoio convencional no antigo Partido Social Democrático, o PSD, esta sim uma agremiação que recebeu todos seus chefes e chefetes, que se converteu no principal partido da República de 1945 (também chamada de Segunda República).
Já o trabalhismo nasceu nanico, foi crescendo até se tornar, em 1964, na segunda maior bancada no Congresso, com deputados estaduais, prefeitos e vereadores em todos os estados, e governadores em várias unidades da federação. Uma potência em 20 anos de vida na democracia, talvez mais do que a fulminante carreira do PT criado em São Paulo nos anos 1980 e que chegou ao poder 20 anos depois.
O Aliança, como o PTB de 1944, nasce no gabinete presidencial. Seu chefe seria o caudilho, na definição dos cientistas políticos e dicionaristas.
Bolsonaro vai participar dos mutirões de militantes arregimentados nas bases que lhe deram a votação de primeiro turno. Diferentemente de Getúlio, que criou seu PTB detrás de um birô no Palácio do Catete, no Rio, o presidente vai arregaçar mangas e participar de comícios em, pelo menos, nove capitais.
Além disso, entra no processo desafiando seus adversários, por dar ênfase à filiação de correligionários no Nordeste, justamente nos lugares onde teve pior desempenho eleitoral nas últimas eleições de 2018. É seu estilo.
Vencida a batalha, estando o Aliança nas eleições municipais, será uma epopeia política com força para forçar uma revisão da imagem e do papel do presidente no quadro político. É o que comentam seus lugares-tenentes, muito animados com a decisão do chefe de entrar de peito aberto. Nesta segunda-feira devem ser dados os primeiros passos, com a criação de um calendário de eventos”.
Nota deste autor. O ex-governador Leonel Brizola era cognominado de “caudilho” pela mídia e seus adversários no Rio de Janeiro. Era apenas uma desqualificação, ao contrário da palavra original, de valor elevado nos países vizinhos.
Entretanto, mesmo tendo fundado um partido à sua imagem e semelhança, o PDT, como tantos outros líderes políticos brasileiros, Brizola não era um caudilho. Era só a pose e o jeitão dos gaúchos, que lembrariam um potentado platino
Os cariocas não o perdoaram. Mas nunca foi caudilho. Vargas sim. Agora há outro na fila.