A surpresa no episódio da demissão do presidente do BNDES, o ex-ministro Joaquim Levy, foi revelar um passo de aproximação do ministro da Economia, Paulo Guedes, com a ala jacobina do governo. A chamada ala ideológica.
Esperava-se outra reação do ministro. Entretanto, ao justificar a forma do descarte de seu auxiliar, alinhou-se com o processo de limpeza “étnica” que se instala no Palácio do Planalto.
Ao exonerar generais de quatro estrelas e defenestrar técnicos de grande prestígio internacional, o presidente opta por um caminho diferente do que seguiu no início de seu governo. Suas primeiras demissões abateram seus antigos aliados ideológicos ou companheiros dos tempos incertos da campanha, como os ex-ministros Gustavo Bebianno e Vélez Rodríguez.
No caso de Levy há uma outra leitura a acrescentar (ou especular). Segundo estas versões, o presidente Bolsonaro fora mobilizado (ou “envenenado”, dizem outras línguas ferinas) para remover de forma abrupta um técnico de trânsito nos mais influentes organismos internacionais, com suspeitas de que estaria sabotando o governo para encobrir uma outra dificuldade.
A causa verdadeira seria o fracasso dos cardeais da equipe econômica de atrair a confiança dos investidores internacionais. Como a economia não anima os capitalistas, tira-se o sofá da sala.
Nos bastidores comenta-se que Levy não apresentava publicamente os segredos da tal “caixa-preta” do BNDES, uma das queixas do presidente, porque expor as entranhas dos negócios internacionais seria um desastre irrecuperável na sua imagem profissional. E mortal para a credibilidade do sistema financeiro do Brasil. Pode ser. Os bancos e os negócios em moeda, desde a Idade Média, sustentam-se na confiança entre as duas partes.
O rompimento desses acordos é fatal. Levy, um técnico com passagem pelos mais importantes organismos do sistema financeiro mundial, como cargos nas diretorias do BID, do Bird, de entidades da União Europeia, além de ministro no Brasil, não estaria disposto a saltar na fogueira, “entregando” minúcias de negócios de empresas mundiais com o banco brasileiro.
Com isto, de quebra, ele estaria protegendo seus antigos aliados dos governos petistas a que serviu. É uma possibilidade. Preferiu salvar os dedos e os anéis, pegando seu boné e afastando-se dessa batata quente.
Envolvido em tal dilema, cercado pela crise e hostilizado por forças crescentes no Parlamento, o ministro Guedes preferiu desconversar e ganhar tempo até ver como essa questão vai se encerrar. Será que vai parar aí? É o que se perguntam os operadores do mercado.