A tábua de salvação flutua. Chamado a analisar a adesão ao governo do bloco de partidos denominado centrão, o ex-ministro Aldo Rebelo não se espanta com a nova frente que se articula para sustentar o executivo: “Quem apoia o governo, participa do governo. Não faz sentido o presidente da República querer alinhamento de partidos e dizer-lhes o seguinte: vocês apoiam, mas não participam do governo. Quem participa são os meus filhos, os militares da reserva que eu escolher, os indicados do Olavo de Carvalho; os políticos ficam obrigados a apoiar, mas não participam”, diz.
Político experiente (foi ministro de três pastas em dois governos nacionais, secretário da Casa Civil de São Paulo, vereador da capital, deputado federal por seis mandatos e presidente da Câmara Federal), Aldo Rebelo vê com reservas a proposta original do presidente Jair Bolsonaro de governar sem base partidária: “A minha ideia é que isto não funciona em qualquer país do mundo.
Na democracia americana, na inglesa, na francesa, no regime chinês, funciona da seguinte forma: quem apoia o governo, participa da administração; se (o poder) foi conquistado pelos republicanos (Partido Republicano dos EEUU), os republicanos vão governar. Eu vi muitas vezes (como integrante da Comissão de Relações Exteriores da Câmara): não passava um mês quando um partido ganhava as eleições nos Estados Unidos e trocava de embaixador. Muitos vieram. Eu conversava com eles? Ah, eu era amigo do presidente Bush. Era empresário, ajudei na campanha dele. Aí ele me mandou aqui para ser embaixador”, disse explicando como se compõem governos em outras democracias.
No seu entender, integrar o bloco parlamentar Centrão (220 deputados: PP 40, PL 39, PSD 36, MDB, 34, DEM 28, Solidariedade 14, PTB 12, Pros 10, Avante 7) não é sinônimo de desonestidade: “O próprio presidente Bolsonaro integrou, durante muito tempo, partidos do centrão. Ele foi do PP durante, sei lá, 15 anos, do PTB também, e nunca foi acusado de ter sido desonesto, de ter sido corrupto. O próprio presidente atual da Câmara, o deputado Rodrigo Maia, do DEM (RJ), é um a pessoa respeitada. Também é o governador de Goiás, ex-senador Ronaldo Caiado (DEM). Então eu acho que estigmatizar as pessoas ou os partidos, também não é um bom caminho. Muitas gentes boas, inclusive, ajudam nesta estigmatização. Quem responde é quem deve. Quem não deve, independentemente do partido, deve ser respeitado”.
“Mas o centrão foi importante para fazer o impeachment da presidente Dilma. A esquerda ajudou a estigmatizar o bloco. E como o centrão ajudou a sustentar o presidente Michel Temer, quando quiseram tirá-lo do governo, também foi estigmatizado pelos adversários dele. O próprio Bolsonaro, para ganhar a eleição, ajudou a estigmatizar o agrupamento. Não tem a musiquinha que o ministro (general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional) cantava sobre o Centrão? Isto não ajuda a esclarecer a política, o que ajuda a esclarecer a política é dizer: olha, eu vou governar com tais partidos. E que os partidos respondam pelos seus atos perante o chefe, que é o presidente, e a Justiça. Eu acho que as coisas funcionam dessa maneira”. disse o ex-ministro.
Concluindo, arrematou: “Há várias formas de convivência com a política no Congresso; quando fui presidente da Câmara, aprovamos lá reformas importantes, inclusive uma da previdência. E isso, eu, pelo menos, nunca precisei oferecer mais que um cafezinho a um deputado. Agora quem quiser oferecer pode oferecer. Acho que o método mais aconselhável, o princípio adequado, como já disse, é o seguinte, e funciona no mundo inteiro: quem apoia o governo, participa do governo”.