Além de marcar o fim de uma era, a saída do procurador Deltan Dallagnol do comando da força tarefa da Lava Jato em Curitiba teve, para muita gente nos meios políticos e jurídicos, um cheiro de acordão – no mínimo, de trégua no acirrado conflito interno do Ministério Público e também nos confrontos entre a operação e outras instituições, como o STF. Apesar das negativas, o afastamento voluntário do procurador, sem ataques a ninguém e nem críticas à PGR ou ao STF, seria sua parte no acordo em que se livrou de maiores punições no CNMP por seus atos.
É bom lembrar: há dias, Dallagnol, alvo de uma série de representações no Conselho por excessos cometidos na condução da operação, foi salvo por dois ministros do STF – Luiz Fux e Celso de Mello, que determinaram o arquivamento ou adiamento desses julgamentos. Pelas contas de muita gente, havia maioria para punir Dallagnol, o que seria um desgaste imenso para a Lava Jato, que já não vive seus melhores dias, tendo quase que diariamente procedimentos e decisões revogados no Judiciário.
Foi para salvar o pouco que resta da Lava Jato, tirando-a dos holofotes, que a turma de Curitiba concordou com a operação Dallagnol, que coincidiu com um momento pessoal difícil para o procurador e deu-lhe também razões de cunho familiar para o afastamento. Seu substituto, Alessandro Oliveira, é considerado um técnico, avesso ao estrelismo e com interlocução mais fácil com Brasília.
A pergunta que não quer calar hoje é se a Lava Jato, que nos últimos tempos vem se esforçando para mostrar que está viva desengavetando denúncias menores e antigas, acabou de acabar. Formalmente não, até porque, com esse entendimento com Curitiba, o PGR Augusto Aras deve prorrogar sua vigência, ainda que com enxugamento de pessoal.
Mas é óbvio que aquela Lava Jato que cresceu no imaginário popular no papel heroico do combate à corrupção acabou há muito tempo. Perdeu sua aura de intocabilidade com a ida do ex-juiz Sergio Moro para o governo Bolsonaro, e, sobretudo, por excessos e injustiças que estão agora sendo revistos pelo Judiciário. O que se tenta agora, tanto por parte da PGR quanto da força tarefa, é um armistício que preserve a imagem de uns e de outros, já que o conflito público estava sendo desgastante para todos.