A corrida presidencial é uma maratona repleta de armadilhas e obstáculos, com inesperadas alterações de rotas, frequentes tiros curtos e médios, e perigo constante de quedas. A acirrada disputa começa bem antes da definição do grid de largada. A sucessão no Brasil começa agora a afunilar.
As prévias tucanas no domingo (21), marcadas pela troca de bicadas entre os governadores João Doria e Eduardo Leite, independente do resultados, vão estimular outras definições. A primeira é no próprio ninho: os apoiadores de quem perder vão aderir aos vencedores? Alguma possibilidade de Aécio Neves e João Doria estarem no mesmo palanque ano que vem?
Uma implosão tucana pode até reduzir o número de candidatos. O primeiro impacto pode ser em São Paulo. Tida como favas contadas, a desfiliação de Geraldo Alckmin pode causar diferentes impactos a partir de suas opções. O que mais ou menos estava precificado é que disputaria o governo de São Paulo, em que hoje lidera as pesquisas, em uma forte aliança que vem sendo costurada no estado. Há cerca de 10 dias, uma hipótese até então improvável mexeu em todo o tabuleiro: Alckmin ser candidato a vice-presidente na chapa encabeçada por Lula.
Mesmo que seja apenas um balão de ensaio, ligou o sinal de alerta em todos os quadrantes. Só a hipótese já é uma vitória para Lula, com forte rejeição em setores que Alckmin nada de braçada. A se confirmar, de alguma maneira pode afetar a estratégia de Ciro Gomes, bolada pelo marqueteiro João Santana, de explorar a rejeição a Lula.
Motivou também uma DR entre Jair Bolsonaro e o dono do PL Valdemar Costa Neto, que estavam com casório marcado para a próxima terça-feira (22). Com sete a horas à frente, em pleno dia em Dubai, Bolsonaro transtornou a madrugada da sua nubente partidária no Brasil, com ampla experiência em outros enlaces políticos. Em 2002, Lula e o empresário José Alencar aguardaram na sala enquanto em um quarto fechado Valdemar negociava o dote com José Dirceu.
Nessa quarta-feira (17), Valdemar promoveu uma reunião com os presidentes regionais do PL apenas pra montar o cenário pra uma decisão já tomada. Em uma curta nota, os dirigentes, por unanimidade, se declararam abertos a apoiar Bolsonaro em seus estados. O recado relevante está no ponto 2 em que dão “carta branca a Valdemar para conduzir e decidir sobre a sucessão presidencial e a filiação”. Quer dizer, negociar.
Valdemar é conhecido por ser um negociador ousado e atrevido. No primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso, quando o então poderoso ministro das Comunicações, Sérgio Motta, o Serjão, negociava apoios para a aprovação da emenda constitucional que introduziu a reeleição no país, ele se disse espantado com o que teria pedido Valdemar: a indicação do chefe da Alfândega no Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos.
Desde o início do primeiro governo Lula, o partido de Valdemar deu as cartas no Ministério dos Transportes. O DNIT sempre foi um feudo deles. Os integrantes do governo de transição de Bolsonaro, instalado na sede do Centro Cultural do Banco do Brasil, em Brasília, diziam, orgulhos, que essa mamata havia acabado. O plano era substituir apadrinhados de Valdemar Costa Neto e outros políticos por militares, que ficariam responsáveis pelo Ministério da Infraestrutura. A ideia original era nomear um general, mas quem emplacou foi o engenheiro e militar da reserva Tarcísio Gomes de Freitas.
A ironia nessa negociação entre Bolsonaro e Valdemar é que o presidente quer justamente Tarcísio como candidato ao governo de São Paulo enquanto o PL até agora apoia a candidatura do vice-governador Rodrigo Garcia, bancada por Doria, pelos cargos que ocupam na administração paulista. Entre eles, o Departamento de Estradas de Rodagem. O partido vai querer compensação no governo federal. A mesma coisa no Nordeste, onde em vários estados o PL arrasta as asas para a oposição, inclusive o PT. Também lá vão cobrar compensações, entre elas a presidência do cobiçado Banco do Nordeste.
A entrada no páreo do ex-juiz Sérgio Moro, que segundo as pesquisas já chega em terceiro lugar, com potencial de abocanhar parte do eleitorado de Bolsonaro, e a inclusão da incômoda pauta da corrupção política no debate presidencial, também mexem no tabuleiro. A expectativa é que depois do Carnaval, a turma que pôs o nome no jogo e não decolou se acerte com alguns dos que estarão mais bem posicionados no grid de largada. E deslanche o jogo.
A conferir.