A ralé do mundo

Foto Orlando Brito

Sem palavras. Evidência mais explícita da desgraça impossível. É muita coisa ruim conjugada ao mesmo tempo. Mesmo com as medidas duras adotadas pelo governo francês, o quadro de saúde pública aqui na França se deteriora rapidamente. O governo estuda o emprego das forças armadas.

Bolsas no Japão e Austrália abrem em forte queda, apesar das medidas já adotadas pelos diversos bancos centrais. A situação deve se replicar nas bolsa brasileira com mais deterioração do quadro já ruim da economia. Claro, sempre agravada pelos “erros” de política econômica em curso.

Surreal mesmo foi a atitude do presidente da República. Em meio ao caos, deu sinais claros ontem de que o seu ímpeto fascista continua em marcha com objetivo claro: fechar os poderes e instalar uma ditadura à moda de Mussolini.

O aloprado na presidência investe contra o povo em meio ao caos sanitário e econômico que se instala no mundo. Os próximos dias devem ser dramáticos – aumento do número de doentes, caos no sistema público, destruição de empregos, miséria para os trabalhadores em meio ao desemprego e a fragilidade da precarização.

Nada disso toca a ralé, termo que tomo emprestado de Hannah Arendt. A ralé não deseja o diálogo, ela quer a barbárie, o confronto, a força impiedosa sobre todos que estão fora do seu espectro de convencimento e conivência, querem mais polícia, mais força e ação com o outro.

A ralé quer radicalizar, quer mais militares e mais repressão. A força é o único mote da ralé. A ralé não crê na justiça, ela acredita antes na força, na violência, porque entre a força e a justiça há inteligência, e a ralé tem repulsa odiosa ao intelectual e seu saber.

Para ralé o direito é uma falácia todas as vezes que se opõe aquilo que ela crê a priori como verdade. Estado de Direito, é só estado, o direito é conveniência para a defesa dos seus interesses.

Manifestação pró-Bolsonaro em Brasília – Foto Orlando Brito

A ralé se apossa da nacionalidade como única instância possível de se ver representada em meio a crença de que a vida pública não precisa de e da política, ela necessita da violência higienizadora das nossas vidas, e que mantenha bem longe toda e qualquer forma de contradição social. Ninguém é confiável para ralé até que se prove o contrário, o judiciário, a imprensa, as instituições sociais estão em risco porque nela estão muitos que não são um de nós.

Para a ralé a família é o bastião das garantias sociais, e é defendida, pois é ela o último lugar de resistência e refúgio seguro da ralé. É preciso encontrar um homem, um tirano que nos conduza na direção da homogeneização plena e ao mesmo tempo alimente nosso ódio diário contra o outro. A Ralé, como lembrou Hannah, se alimenta do ódio cego e doentio, e quer sangue.

Somos o país da ralé, dominados pela ralé, sujeitos à força da ralé. Ralé, que não é pequena, que tem força e que comanda uma nação de duzentos milhões de pessoas.

A ralé é forte. Sua força vem da sua presença em todos os espaços. A ralé está no poder. A ralé está no judiciário, no Ministério Público, na Lava Jato. Sim, na Lava Jato. A Lava Jato é a ralé em estado puro. Nada mais ralé que a Lava Jato. A ralé está no parlamento, no dono da Havan, na classe média, no pobre e no miserável. A ralé está em toda a parte.

Somos o país da ralé, dominados pela ralé e a ralé do mundo.

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