Se há uma pedra cantada desde o início da eleição presidencial, sempre foi o propósito de Bolsonaro de virar a mesa para evitar uma derrota. Nem é porque repetiu inúmeras vezes que só Deus o tiraria da cadeira presidencial. Mas, sim, porque conspirou o tempo todo a céu aberto, nos dois turnos eleitorais. E, depois, pra melar a posse de Lula, em que se temeu até um atentado para matar o novo presidente.
Tudo isso tava no radar de todo mundo. Foi um alívio geral a tal subida a rampa do Palácio Planalto ter sido um show de diversidade em clima de paz. Mas uma mobilização da extrema direita nas redes sociais, captada por todos os órgãos de segurança, prometia uma revanche no domingo seguinte, 8 de janeiro. Mesmo assim, teve gente em poderosos gabinetes em Brasília que achou ser mais um blefe. Outros foram cúmplices.
Às vésperas dos golpistas depredarem as sedes dos Três Poderes da República com caminho aberto por quem tinha obrigação de reprimi-los, os inúmeros órgãos de segurança que desde sempre monitoram a capital federal sabiam das intenções dos golpistas invasores. Em todos os inquéritos que apuram os atentados e omissões de autoridades aparecem uma intensa troca de informações em que foram acesas luzes de alertas.
No depoimento na sexta-feira (21) à Policia Federal, por ordem do ministro Alexandre de Moraes, o ex-ministro-chefe do Gabinete Institucional do governo Lula tentou caminhar saltitante sobre brasas. Em sua versão, as imagens que parecem comprometê-lo com invasores ao Palácio do Planalto foram montadas. Seu objetivo seria evitar o pior, evitando que ocupassem áreas palacianas mais sensíveis. Negou qualquer cumplicidade com seus subordinados, como o major do Exército José de Paula Pereira, que confraternizaram com os vândalos.
Seu depoimento até aí, como chefe traído, até poderia ser mais ou menos compreensível. Mas na sequência o general G Dias pisou na bola e se mostrou um incauto para quem anos anos antes exerceu o mesmo cargo por longo período. Com claras ameaças ao governo em que era responsável pela segurança institucional, que agitaram os bastidores em todos os sistemas de inteligência dos múltiplos órgãos civis e militares, disse que não tinha conhecimento de ações radicais planejadas para ocorrerem em Brasília nem por subordinada Abin.
Seguiu nessa mesma linha ao dizer ter “achado um absurdo” o GSI não ter sido convidado pela Secretaria de Segurança do DF para a reunião em que foi acertado o plano de ações para aquele trágico fim de semana. Absurdo também nesse caso é a passividade do general Dias, tido como o militar de mais confiança de Lula.
Depois da troca de guarda entre gestões tão hostis, é muito difícil engolir que um militar calejado não tenha agido por esperar convite de uma Secretaria a então chefiada dor Anderson Torres, que assumiu a contragosto do novo governo e até hoje segue preso como suspeito de ser um dos principais operadores do golpe.
Talvez a CPMI dos atos antidemocráticos no Congresso consiga uma explicação melhor.
A conferir.