A extrema direita vende nas redes sociais para alimentar seus seguidores que, diferente de seus adversários de esquerda, aposta na verdade. Pura cascata. Quando na oposição, até ilude fanáticos e incautos. No poder, fica difícil disfarçar. A perna curta da mentira fica cada vez mais exposta. Por mais que pareça aposta burra, o clã Bolsonaro ainda insiste na estratégia mentirosa de vender a fantasia de que está tudo bem enquanto, no auge da pandemia, o país enfrenta o momento mais caótico de sua história moderna.
As maluquices que pautaram Ernesto Araújo, desde que ele, por oportunismo, deu uma guinada no que antes defendia, para se tornar discípulo de Olavo de Carvalho e se candidatar a cargos no governo Bolsonaro, pareciam apenas esperteza. Uma jogada no baixo clero do Itamaraty para ascender ao time principal. O que se esperava, inclusive entre amigos dele, é que chegando lá, acenderia uma vela para seu padrinho e outra para a diplomacia brasileira. Foi assim que procederam todos que chegaram lá em momentos inclusive mais complicados.
Para um diplomata de carreira, genro de um embaixador com grande vivência, ele fez tudo errado. Entrou na vibe do maluquete Eduardo Bolsonaro, o tal 03, e se sentiu parte de uma revolução mundial sem pé nem cabeça, na qual o ideólogo Olavo de Carvalho era guru e Donald Trump simplesmente Deus.
Esse é o roteiro de um absurdo que comanda a nossa política externa desde a posse de Jair Bolsonaro. Desde então, brigamos com a China, nosso principal parceiro comercial, a Argentina, nosso maior parceiro regional, e a Europa, e ignoramos a África, a Ásia e o Oriente Médio, exceto Israel. O que sobrou? Os Estados Unidos com o desastrado governo Donald Trump. Depois que ele foi derrotado nas urnas, o clã Bolsonaro e o nosso chanceler Ernesto Araújo questionaram o resultado das eleições americanas. Inacreditável!
Mais inacreditável ainda é que esses maluquices tenham persistido. A dobradinha entre Ernesto Araújo e Eduardo Bolsonaro, com as bençãos de Jair Bolsonaro, seguiu criando problemas com a China, a Índia, a Europa, nossos vizinhos sul americanos e os Estados Unidos.
Nessa semana, Ernesto Araújo vai ser demitido — perde o cargo também Filipe Martins, o moleque que essa turma escalou para ser assessor internacional do presidente da República. Saem como anéis da mão presidencial que precisava ser cortada, no mínimo pela sabotagem ao combate a pandemia do novo coronavírus. Pelas tantas mortes que essa conduta irresponsável causou, a acusação de genocida aqui e nos tribunais internacionais tem fundamento.
Tudo isso seria jogo jogado, se não fosse a malandragem dos bolsonaristas. Eles viram que não conseguiriam manter Ernesto Araújo no Itamaraty, tentaram emplacá-lo em alguma embaixada do charmoso circuito Elizabeth Arden — Paris, Roma, Londres e Nova York –, mas o Senado avisou que por lá não passa. Perderam o chão. E aí inventaram a narrativa, que tá pipocando em suas redes sociais, que o Congresso resolveu derrubar Ernesto Araújo, não por sua notória omissão na busca de vacinas, mas porque está vendido para a China na bilionária licitação sobre o G-5.
Na sequência, passaram a replicar o tuíte de Ernesto Araújo insinuando que a senadora Katia Abreu, presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, e seus colegas senadores querem derrubá-lo por estarem vendidos aos interesses chineses na questão da internet 5-G. Poderia ser apenas mais uma jogadinha de marketing para seus seguidores, alimentando um discurso de despedida.
O problema é que foi feito por um chanceler ainda no exercício do poder, em um governo que, a exemplo de Donald Trump, o twitter vale igual ao Diário Oficial. É hora de dar um basta nos desmandos do governo Bolsonaro. Se vão passar pano para Jair Bolsonaro, pelo menos investiguem os desmandos do general Eduardo Pazzuelo e do ministro Ernesto Araújo.
A conferir.