Livro sensação. Vazou neste fim de semana o primeiro capítulo do livro “História de Uma Amizade”, que conta as intimidades do relacionamento pessoal entre o ex-presidente Lula e o empresário baiano Emílio Odebrecht.
Escrito pela jornalista e escritora Malu Gaspar, a obra está em fase de edição pela Companhia das Letras. Não é uma bomba de denúncias, nesse início.
É o começo da narrativa amena do relacionamento desses dois personagens, geralmente amistoso na esfera pessoal, muitas vezes antagônicos nos posicionamentos. O livro apresenta a versão do empresário, expressa no subtítulo: “Como Emilio Odebrecht conheceu Lula e o que aconteceu depois”.
No início, Mario Covas
A obra inicia com a apresentação dos dois personagens um ao outro pelo então prefeito de São Paulo, Mário Covas, amigo comum. “Você conhece o Lula?” perguntou Covas a Emílio em 1978, durante a campanha para o Senado da sublegenda do MDB que tinha Fernando Henrique Cardoso como candidato.
Depois, a parceria se desenvolve, com o estreitamento do relacionamento e a participação da empreiteira nas campanhas do Partido dos Trabalhadores. Na fase de Lula presidente, não há propriamente negócios, mas ações estratégicas e comerciais com apoio governamental. Não eram tão amigáveis como pareceriam, pois havia uma luta surda da burocracia da Petrobrás contra a Odebrecht, tentando a verticalização e horizontalização total da empresa, o que incluiria o controle da petroquímica, então sob comando da Braskem, empresa do grupo.
Nessa parte aparecem os grandes personagens, como Antonio Palocci, José Dirceu, Paulo Roberto Costa, Pedro Barusco (o criador que engendrou o sistema de propinas), do lado do governo; Alexandrino Alencar, Marcelo Odebrecht, Pedro Novis e outros, do lado da Odebrecht. É uma história intensa.
(É preciso relembrar que a Construtora Odebrecht moderna deu seu primeiro vagido construindo estradas vicinais e pontilhões para acesso aos primeiros poços de petróleo no Recôncavo Baiano no início da década de 1940, que deram origem à Petrobrás. As duas desde então vieram juntas até o estouro de todo esquema na Lava-Jato).
O capítulo encerra-se com uma declaração de Emilio numa reunião de seu board: “Há quem diga que eu sou um sonhador, mas não sou o único”., disse o todo-poderoso da Odebrecht numa reunião anual, parafraseando a canção “Imagine” de John Lennon. O outro sonhador certamente era o presidente da República, que dera ao empreiteiro, naquele ano de 2004, uma das coisas que ele mais queria. “Ouvimos do presidente Lula que a Odebrecht é um orgulho nacional”, lembrou Emílio emocionado.