Usando a desculpa da campanha da vacinação contra a pólio, o ministro da Saúde pediu para falar em cadeia de rádio e televisão pensando em ajudar Bolsonaro na campanha. Achou que todo mundo é bobo e que poderia driblar a legislação eleitoral para fazer propaganda do chefe e, mais, reverter a verdade dos fatos, tentando passar a mensagem de que o governo foi ágil na aquisição e distribuição das vacinas contra a covid-19. Deu ruim e o plano foi por água abaixo.
O presidente do TSE, ministro Edson Fachin, que de bobo não tem nada, não só barrou o plano “jenial” (com J mesmo) do “Tal Queiroga” – assim chamado por Bolsonaro-, como aproveitou para dar um belo puxão-de-orelha no ministro. “A Constituição Federal desautoriza a personificação de programas da administração pública federal, mormente no período que antecede as eleições e, justamente por isso, é alcançado pelas vedações da Lei Eleitoral”, disse Fachin em seu despacho.
A dupla cara-de-pau do ministro é enorme. Além de tentar fazer propaganda eleitoral para o presidente de forma indireta usando os recursos do governo, tanto financeiros quanto institucionais, queria apresentar uma versão distorcida da realidade com uma cascata sobre a compra das vacinas contra a covid.
Trata-se de um enredo que todo o país assistiu com indignação e perplexidade e, depois, assistiu o desmonte de cada um desses capítulos escabrosos na CPI da Covid no Senado. E montou um enredo com começo, meio e fim mostrando passo a passo da pilantragem na maior pandemia da história do país pelo governo Bolsonaro.
Não fosse o então governador de São Paulo, João Doria, na época sonhando em disputar a presidência da República, que peitou Bolsonaro e antecipou o lançamento da CoronaVac, produzida pelo Instituto Butantan, com certeza as vacinas teriam demorado ainda mais pra chegar ao Brasil. A má vontade do presidente aliada à incompetência do então ministro da Saúde, o tal general Eduardo Pazzuello, foram escancaradas pela CPI.
Na ânsia de puxar o saco do chefe, Queiroga só esqueceu de combinar com o próprio Bolsonaro, que continua se manifestando contra a vacinação. Ele deixou isso claro na última terça-feira, durante entrevista ao Flow Podcast. O presidente não só manteve seu posicionamento como também protagonizou uma das cenas mais constrangedoras da entrevista, deixando o apresentador Igor Rodrigues Coelho, conhecido como Igor 3k, constrangido e sem graça com uma piada sobre a varíola dos macacos.
Aliás, a entrevista de quase 5 horas tá recheada de pérolas e histórias distorcidas. Novidade nenhuma, apenas Bolsonaro fazendo bolsonarices.