Na primeira década do século passado ainda dormitava nas ruas a lembrança da queda do Império e a proclamação da República. Fazia poucos anos que o marechal Deodoro da Fonseca fora escolhido para substituir Dom Pedro II, deposto e embarcado com a família real em um navio no Arsenal da Marinha do Rio de Janeiro para exílio definitivo na Europa.
(A família real, aliás, residia no palácio localizado na Quinta da Boa Vista, no Bairro de São Cristóvão, transformado em Museu Nacional e que foi destruído por um incêndio nesse domingo.)
Além de Deodoro, já haviam passado pelo comando da República o general Floriano Peixoto e os advogados Prudente de Moraes, Campos Salles e Rodrigues Alves. Não havia campanha eleitoral. Foram eleitos de forma direta, porém com a força dos chamados “votos de cabresto”, porque aqueles que os elegiam tinham ligação e dependência de toda monta com os coronéis interessados na vitória de seus candidatos.
No fim do ano de 1909 e começo de 1910, o Brasil preparava-se escolher o sexto presidente na quinta eleição pelo voto direto. É justamente aí que surge o nome de outro advogado, Ruy Barbosa, nascido na Bahia, brilhante orador e que liderava o movimento que ficou conhecido como Campanha Civilista. Fazia oposição ao general Hermes da Fonseca, representante dos conservadores.
Liderada por Ruy, a Campanha Civilista tinha como objetivo quebrar a hegemonia de militares no poder e dar maior participação popular aos brasileiros, até então “presos” ao domínio de seus patrões, chamados à época de Barões da República. E foi com esse conceito que Barbosa apresentou sua candidatura à Presidência pelo PRP-Partido Republicado Paulista, contra o general Hermes da Fonseca, representante dos conservadores.
Naquela época, quando os automóveis sequer existiam e as mulheres não tinham ainda nem o direito ao voto, a população brasileira pouco ultrapassava os 23 milhões de pessoas, basicamente concentradas no Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador. Foi com essa realidade que Ruy Barbosa lançou-se candidato a presidente do Brasil. Importante sua atitude porque dela nasceu uma série de inovações.
Candidato, Ruy foi à luta. Saiu Brasil a dentro. Não existia nem carro nem avião. Viajou em navio, trem e carruagem puxada a cavalos para mais de 50 cidades da Bahia, Minas, São Paulo e Rio. Eram os primeiros comícios, com a inovação de cartazes, distribuição de santinhos impressos como propaganda, caminhada pelas ruas. Por onde passou, foi recebido com salvas de tiros, aplausos, fogos e artifício e aplausos. Em busca do voto, Ruy falava ao povo do alto de caixotes transformados em palanques improvisados.
A movimentação de Ruy Barbosa com as novidades na campanha para presidente não teve inteiro resultado positivo. Foi derrotado pelo marechal Hermes da Fonseca por 403.897 votos a 222. 822. Ou seja, por 64% a 36%. Porém, sua nova maneira de fazer campanha reduziu a percentagem dos vitoriosos anteriores que chegava à quase totalidade dos votos.
Daqui a pouco, no dia 7 de outubro próximo, em torno de 207 milhões de brasileiros – dez vezes mais que aquela longínqua eleição que Ruy perdeu – vão às urnas escolher entre treze candidatos aquele ou aquela que subirá a rampa do Palácio do Planalto. Mas agora, passados mais de cem anos, tudo mudou. Os tempos, o eleitorado, o pensamento sobre país. Mudou o Brasil, mudou o mundo. Porém o legado que Ruy Barbosa deixou hoje, está super aperfeiçoado.
Agora – na Era da comunicação total e imediata, da Internet, das notícias online, da importância das redes sociais, dos transportes a jato, da influência do marketing eleitoral – a propaganda política que Ruy Barbosa inaugurou com suas viagens e comícios, é considerada essencial para eleger o próximo presidente.
Não é à toa que todos pelejam para participar dos debates promovidos pelas tevês, das sabatinas organizadas por sociedades de classe e para ter mais tempo no horário administrado pelo TSE. Torçamos para o espírito democrático de Ruy Barbosa ilumine e inspire o eleitor brasileiro a escolher aquele assumirá em breve o governo da República.