Diante da possibilidade de o governo — na proposta de reforma tributária enviada ao Congresso — criar taxa para a aquisição de livros, lembrei-me dessa foto. A imagem cabe perfeitamente para contribuir com a discussão do tema que resulta em polêmica: imposto sobre a compra de publicações literárias.
A fiz na véspera de uma Quarta-feira de Cinzas, no setor central de Brasília, há dois ou três anos, quando não se imaginava que o mundo fosse sofrer o drama da pandemia do Coronavírus.
Blocos de carnaval desfilavam e arrastavam centenas de alegres foliões. Na mesma pista, esse nosso amigo maltrapilho da foto — pelo visto, um pobre andarilho sem destino — estava alheio à festa. Como se nada estivesse acontecendo, preferiu concentrar-se para ler um livro que encontrou revirando uma lata de lixo na frente de um luxuoso hotel da Capital.
Fiquei tão surpreso com a cena que aproximei-me e, depois de fazer a foto, fui matar a curiosidade de ver que livro era. E era “Textos de Machado de Assis”. O senhor maltrapilho estava na página do conto “O Espelho”, que começa com a seguinte frase: O esboço de uma nova teoria da alma humana.
A fotografia cabe também dentro do tema “Enxergando o Pais de perto” ou “Sem palavras”. Aliás, um amigo que é imortal da Academia Brasileira de Letras, ao discorrer sobre a questão, disse-me: — Taxar livros é tolher a liberdade, é brecar a cultura!
OrlandoBrito