A benzedeira mandou Damião fechar os olhos. Tomou sua mão e deram uma volta pelo quintal. Depois, lhe disse para sentar-se no tamborete de madeira colocado perto da cerca. Como estava de olhos cerrados, o paciente errou o alvo e levou o maior tombo. Para ele, tudo bem. Em nome de tirar do corpo a sensação de moleza e desânimo qualquer lance desse tipo lhe servia, ainda que fosse cômico como sua retumbante queda. Muito provavelmente achou que fazia parte do tratamento.
Depois de benzer o crédulo Damião com uma flor branca, uma galho de mastruz e um ramo de arruda, a rezadeira dava como concluído o ritual da simpatia. Para dar certo a cura, ela tinha que sair caminhando de costas, mas sem olhar para trás. Fazia parte da simpatia de aplacar os incômodos. E assim o fez, olhando fixamente para seu aliviado paciente, com a certeza de que alcançaria a saída para a rua, onde despacharia os males que afligiam Damião.
Tadinha! Sem ver o que estava atrás de si, tropeçou com os calcanhares em um cão que dormia próximo ao portão. Se a mordida do cachorro foi dolorida e se a situação do nosso Damião melhorou não tenho notícia. Mas quando fui retirar o filme de minha Leica, percebi que a tampa que impede entrada de luz na câmara não estava corretamente fechada.
Depois de revelar o filme, vi que o negativo apresentava essa invasão luminosa justamente em cima da figura de Damião. Como o véu branco sugeria alguma interferência do além, deixei permanecer.
Cruz credo!