O que parecia uma simples questão revela-se uma grande polêmica. O Supremo Tribunal Federal decidiu no dia 6 passado ser inconstitucional a prática das vaquejadas no Ceará, medida que pode se estender para outros estados. A vaquejada – considerada por muitos como esporte e competição – consiste na perseguição de um boi por um peão montado em lombo de cavalo, até derruba-lo puxando-o pelo rabo durante sua corrida. A queda do animal pode resultar em fraturas e sofrimento. O que é ilegal.
Evidentemente, há opiniões discordantes e favoráveis à sentença dos ministros da Suprema Corte brasileira. No dia seguinte à decisão dos magistrados, entidades contrárias a ela promoveram manifestações em dez estados do país, lançando a mobilização do movimento nacional em favor das vaquejadas. E também das corridas de pega-do-boi.
Nas cidades de Juazeiro, na Bahia, e Petrolina, em Pernambuco, separadas pelas águas do Rio São Francisco e região tradicional de festas e eventos desse tipo, os protestos reuniram centenas de vaqueiros, boiadeiros, admiradores e demais interessados no assunto, como empresários que exploram as festas que ali acontecem. Em Acari, no Grande do Norte, e em Serrita, em Pernambuco, consideradas “capitais” das vaquejadas a grita não foi menor. E em outras localidades do Nordeste também.
Embora não pareça, é mesmo um tema repleto de polêmica. Até o resultado da votação na Suprema Corte reflete a controvérsia. Ficou no empate em cinco a cinco até que a presidente, Carmen Lúcia, decidiu-se a favor da proibição. Em seu voto, a jurista reconhece a importância da vaquejada como manifestação cultural de alguns estados, mas considerou também que a prática impõe agressão e sofrimento aos animais.
Essa é, porém, somente uma porta de entrada para o assunto. Quem é contra a proibição alega que, antes de tudo, representa sim a quebra de uma grande tradição nordestina. E mais, que a atividade é meio de sustento para famílias e famílias que sobrevivem do trabalho decorrente das vaquejadas e pegas-de-boi. Por exemplo, incontáveis empregos de vaqueiros, pequenos comerciantes, artistas e varias pessoas que encontram sustento nas feiras e festividades desse tipo.
Interessante como as palavras do voto da ministra Carmem Lúcia oferecem discussão para o tema. Ela diz, em determinado momento, que sempre haverá defensores dessa tradição, mas cultura também se muda. E que muitas foram levadas nessa condição até que se houvesse outro modo de ver a vida de maneira mais ampla e não somente a dos seres humanos. E é justamente tomando essa última colocação da ministra Carmen que um adepto das vaquejadas diz:
– Ora, se o objetivo da discussão é o não sofrimento dos animais, o que evidentemente todos concordamos, por que não livrarmos do mesmo sofrimento também os animais que participam dos rodeios tão comuns principalmente nas feiras do interior de São Paulo? E olha que em muitos desses lugares usam o sedém como artifício de tortura. Sedém é uma cinta – às vezes embebida em produtos que provocam ardência – para que o animal se irrite e o faça saltar ainda mais em reação à dor. Isto é tão doloroso e ilegal quanto deveriam ser as corridas de cavalo, com grandes prêmios e derbys milionários e até mesmo os concursos de equitação e hipismo, como os de saltos com obstáculos nos campeonatos internacionais e até nos Jogos Olímpicos?
Outra opinião lembra:
– Foram consideradas vitória a proibição da festa da Farra do Boi, em Santa Catarina , das touradas e das rinhas de galo e brigas de cães Brasil a dentro. E também da restrição da atuação nos circos de elefantes, focas, onças, leões, tigres etc. Porém, não se cumpre a mesma proibição, por exemplo, de manter presos em gaiolas os passarinhos. E mais: por que não tornar delito as lutas entre os próprios humanos nos ringues, que deixam muitas vezes sequelas definitivas e até levam à morte?
E você, qual sua opinião?
Cada vez mais fico impressionado com a nova dimensão que o mundo moderno ganhou. Olha que coisa: por força de interagir com um sem fim de seguidores, amigos, colegas e pessoas interessadas em trocar impressões sobre jornalismo, tenho minha conta no FaceBook. Tenho um amigo em Petrolina, mora lá. Sujeito descolado, ligado no mundo, já morou em São Paulo, Rio, Salvador e fora do Brasil, fala idiomas, inteirado sobre os temas da atualidade etc. Tenho uma amiga que em Juazeiro da Bahia, mora lá. Mulher descolada, ligado no mundo, anda por São Paulo, Rio, Salvador e pelo Exterior, fala idiomas, atualizada com os temas do planeta, tem opinião sobre tudo.
E o mais interessante. Eles não se conhecem, embora vizinhos. Moram a metros um do outro. Como eu disse, sou amigo de ambos – eu que moro em Brasília, a 1500 e tantos quilômetros de distância de Juazeiro e Petrolina – falo com um e outra quase que diariamente. Pois as colocações em aspas que exponho acima são deles.
Eu mesmo já estive varas vezes fotografando pegas-de-boi e vaquejadas.
Grannnnnnde Facebook.
Orlando Brito