É quase sempre assim. O cidadão vota em um carinha para deputado federal ou senador porque ele prometeu durante a campanha defender os interesses da sociedade. Mas, uma vez eleito, o sujeito chega ao Congresso e se depara com um turbilhão de possibilidades de locupletar-se. Exemplo disso aconteceu agora na votação da Lei do Orçamento da União para o próximo ano.
A representação parlamentar virou, como se diz no corriqueiro português das ruas, uma esculhambação, com viés de roubança, com raros eleitos honrando a palavra e a decência. Ao contrário, distante do pobre eleitor, o congressista se junta em grupos de ataque aos cofres públicos e, em consequência, se opõe àquele que o elegeu em boa fé. Você os ouve falando nas sessões e constata: o que deveria ser discurso é, na verdade, papo furado, aquele de levar benfeitorias às suas bases.
Basta observar na vultosa verba que a maioria aprovou nessa semana para fazer parte do chamado “fundão de financiamento” da próxima eleição. Partidos abandonam suas ideologias e os carinhas a fidelidade ao cidadão que nele votou. Quase 5 bilhões de reais. É muito dinheiro. Beira o triplo de outros anos. E é grana que vai para as legendas e, em consequência, para a campanha dos carinhas que serão novamente candidatos com a mesma conversa mole.
Uma vez garantidas suas vantagens e para acochambrar o grande volume de outros interesses, os carinhas acabam votando pela aprovação de destinação de verbas do orçamento um tanto discutíveis. Por exemplo, agora. Para agradar a Jair Bolsonaro, autorizaram placidamente um quinhão de 1.7 bi de aumento exclusivo para uma categoria, a dos policiais. Vários, inúmeros outros segmentos não tiveram a mesma “compreensão”. Um desses segmentos é o dos auditores da Receita Federal. Nessa quarta-feira, mais de 300 deles entregaram cargos de chefia, para demonstrar o descontentamento.
Faz lembrar o que sempre dizia Doutor Ulysses Guimarães, crítico voraz dessa prática contumaz: — Se você acha o atual Congresso ruim, espere o próximo.
Pobre eleitor brasileiro. Bem que podia votar melhor.