No lado não ofical da Capital, economia informal é solução para a crise

André Marques e sua camionete que é venda e residência. Foto Orlando Brito

O exercício da minha profissão de jornalista na Capital do País me coloca diariamente diante dos personagens mais importantes da República. Numa hora estou no Planalto, noutra na Corte Suprema ou no Congresso, onde nomes que ponteiam o noticiário é o que não falta. Nem sei quantos discursos, debates e entrevistas ouço durante a semana, quando falam de grandes problemas, complexidade das crises e de números milionários, bilionários.

Às vezes vejo ministros da área da economia, projetos de parlamentares, previsões de empresários citarem em seus discursos valores e cifras inimagináveis. Seja quando abordam programas governamentais, planos orçamentários, investimentos, negócios e até mesmo gigantescos prejuízos causados pelos malfeitos da corrupção.

O certo é que quem, como eu, é jornalista em Brasília num momento pode estar na placidez do tapete vermelho de um palácio e, minutos depois, no fogo cruzado do gás de pimenta num confronto entre polícia e manifestantes. Porém, jamais perco o foco dos “pequenos” acontecimentos distantes da seara do poder.

Dia desses, a caminho para a Praça dos Três Poderes, parei para dar atenção a esta cena aí da foto. André Marques, de 27 anos, é casado e tem dois filhos pequenos. Não conseguiu terminar o primeiro grau na escola. Desempregado. Para vencer a crise, transformou uma pequena camionete em moradia e lugar do ganha-pão de sua família. O endereço é a sombra de uma árvore na beira de uma das vias do Plano Piloto.

Em seu velho carrinho, vende de tudo: de ovos a frutas, de biscoitos a pipoca. Na madrugada, se dirige ao mercadão da Ceasa e compra melancias, abacaxis, laranja, abacate, manga, limão, maracujá… Faz frete e mudança. Seu marketing de vendas pode não ser tão sofisticado quanto o das grandes empresas. Mas é eficiente. Uma placa escrita com tinta rústica, é que propicia a André contar os centavos de lucro que obtém em cada venda.

Ao fim do dia arrecada em torno de 60 reais como lucro líquido. É com esse dinheiro que vence sua crise. Como diz, não tem o veio da delinquência. André só tem um temor: que os fiscais da agência de fiscalização impeçam sua maneira de sobreviver, levando os produtos que geram sua renda.

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