Vendo agora Sebastián Piñera tomando posse no lugar de Michelle Bachelet, lembrei-me de outubro de 1980.
Na manhã cinzenta de Santiago, escolares obedecem à ordem para agitar as bandeirolas do Brasil e do Chile para a comitiva dos presidentes João Fiqueiredo e Augusto Pinochet. Os generais seguiam para o Palácio La Moneda sete anos depois do golpe liderado por Pinochet que culminou com a deposição e morte de Salvador Allende.
Lembre-se que vários brasileiros se exilaram em vários países, fugindo do regime militar instalado no Brasil em 1964. Um deles foi o Chile. Por exemplo, foram para lá José Serra, Fernando Henrique Cardoso e César Maia, entre outros. Era lugar considerado democrático, presidido por Salvador Allende.
Em 1975, porém, liderado pelo general Pinochet houve um golpe de estado que tirou Allende da presidência. Aliás, culminou com a morte de Salvador Allende. Evidentemente, os exilados tiveram que buscar novos rumos. Tempos brabos vivia o povo chileno, de ditadura.
Nenhum Chefe-de-Estado visitava Pinochet. Mas Figueiredo resolveu ir a Santiago.
Mesmo tendo como objetivo fazer cobertura da visita presidencial, alguns jornalistas brasileiros tiveram problemas com a força militar. Eu mesmo e mais dois colegas fomos detidos na Praça da Constituição quando fotografávamos o palácio La Moneda, ainda com as paredes cheias de furos das balas, marcas do conflito da tomada poder, em 11 de setembro de 1973. Foi preciso a interferência de um diplomata do Itamarati para nos soltar.
À noite, seis colegas repórteres fomos a um restaurante frequentado por políticos, que funcionava nos fundos do edifício do Congresso posto em recesso. Nem demos importância ao “toque de queda”, ou seja, à obrigatoriedade voltar para o hotel antes das 22 horas. Não podíamos imaginar que a proibição de reunir-se e andar pelas ruas à noite era mesmo para valer.
Não deu outra. Uma guarnição do exército chileno chegou e encrencou com todo mundo. Com Roberto Stefanelli, Ricardo Pedreira, Álvaro Pereira, Emerson Souza, Flávio Salles e comigo. Só fomos liberados depois de convencermos o comandante do pelotão que nos levar para um quartel seria motivo de reportagens mundo a fora e que isto não ficaria bem para a “ la democrácia” de Pinochet.