Com a proximidade das eleições desse ano, é natural surgir um punhado de pesquisas para medir a preferência daqueles que irão votar em outubro nos candidatos já postos. Ainda mais quando se trata do pleito para a Presidência da República. São muitas as pesquisas. Umas, de institutos especializados em aferições de dados colhidos do público alvo. Outras, de iniciativa dos próprios candidatos, empresas jornalísticas etc. Algumas patrocinadas por entidades de intesse partidário. É óbvio cada uma ter critério e metodologia próprios. Nem todas, porém, oferecem inteira precisão até porque não é sempre possível captar a verdadeira tendência do eleitorado.
É comum ouvirmos que as pesquisas são o “retrato do momento”, amostragem do que se aferiu considerando o número de entrevistados em localidades variadas para colher uma indicação próxima do que poderá acontecer nas urnas.
A Feira dos Goianos é como se chama o enorme conjunto de barraquinhas montadas ao longo da avenida que liga as cidades-satélites de Taguatinga e Ceilândia, em Brasília. É lá que as pessoas de baixa renda podem comprar a preços muito baixos saias, shorts, calças, malhas, bolsas, camisas, óculos, sapatos e, enfim, todo tipo de roupas e artigos da moda. São, em geral, gente humilde, trabalhadores de orgãos do governo federal ou empregados em residências da alta classe da Capital.
Lá você encontra cópias “perfeitas” dos últimos lançamentos das grifes famosas de mundo afora. Tudo réplica, tudo fake. Mas é a chance que cada um tem de andar por aí com os “originais” lançamentos da Gucci, Chanel, Gabana, Dior, Nike, por exemplo, tal e qual aos autênticos de seus chefes e patrões. A Feira dos Goianos é, portanto, um universo ideal para se colher tendências de vários temas, aceitação de produtos e também de candidatos. É onde você encontra o cidadão comum, o consumidor real, o eleitor espontâneo e sincero. A vida real, digamos. Toda cidade do Brasil tem feira idêntica.
Pois foi lá na Feira dos Goianos que me deparei com essa cena aí das fotos. Realidade que bem pode refletir o sentimento popular desse momento de definição das candidaturas para a eleição presidencial que se avizinha.
O menino Kelvin tem 14 anos. Não tem ainda amplo conhecimento sobre os assuntos da política. A mãe é diarista, o pai esté sem emprego fixo. Para ajudar nas despesas da família, resolveu montar um varal com toalhas estampadas com personagens do momento. O preço de cada peça é 30 reais, mas acaba negociando por 25. Estão expostas lá grandes toalhas com a imagem de heróis da garotada, times de futebol, cédulas de dinheiro e de dois candidatos ao Palácio Planalto: Jair Bolsonaro e Lula.
Disse-me Kelvin: em cada 16 bandeiras vendidas, dez são de Lula e seis são de Bolsonaro.
Nem sei se os números do pequeno feirante guardam proporção com as Data aferições divulgadas na grande mídia. Contudo, depreende-se que esta é mais uma pesquisa a se levar em conta. É espontânea e obejtiva. Perguntei se não há também para vender bandeiras com a imagem de outros candidatos a presidente. Respondeu-me que não, mas já encomendou porque ultimamente há número crescente de jovens desejando adquirir toalhas com a figura de “um tal de Sérgio Moro e de uma dona chamada Simone Tebet”.
Depois de fazer a foto do Kelvin entre as duas figuras de Lula e Bolsonaro, reparei na dúvida de um senhor que mirava no varal para efetuar sua compra. Disse-me que, na verdade, não estava indeciso sobre os personagens da política. Queria levar para casa uma toalha com a imagem de seu sonho do momento: aquela que reproduz uma nota de duzentos reais. Dentre todas todas todas ali expostas, a que mais vende mesmo é a de 100 dólares.
E minha curiosidade sobre a existência de várias bandeiras do Flamengo se desfez quando o menino disse-me que não havia a do Vasco porque essas vendem muito mais e, por isto, é difícil encontrá-las. Será?
Orlando Brito