Nesse carnaval de 2017, o enredo da Mangueira versa sobre as superstições, simpatias, crenças e premonições: “Só com a ajuda do Santo”. A última escola entrar na Avenida Sapucaí, quando os primeiros raios de sol estiverem saindo sobre o Rio de Janeiro.
Perdi a conta de quantos desfiles fui fotografar no Sambódromo da Sapucaí. Trago na memória momentos realmente inesquecíveis daquele verdadeiro espetáculo de luzes, cores e som. Na verdade, os enredos das escolas de samba cariocas recontam a história e refletem o jeito do povo brasileiro. A musicalidade, a alegria, a irreverência, a criatividade. Mas, sobretudo, a beleza e a leveza.
Em 1988 a Estação Primeira de Mangueira entrava na Avenida Marquês de Sapucaí com um enredo que se referia à importância da raça negra na constituição étnica do povo brasileiro. Relembrava a decretação da Lei Áurea, com a qual a Princesa Isabel, um século antes, determinava o fim da escravidão no Brasil. Cem anos de anos de liberdade, realidade ou Ilusão, letra de Hélio Turco, Jurandir e Alvinho.
Impactante o desfile da Mangueira. As fantasias, a evolução, a alegria dos passistas e figurantes, a impecável bateria e, enfim um belo visual que chamou a atenção não somente dos meus olhos, mas também dos meus ouvidos. Evidentemente, não perdi a chance de tentar transformar em imagem os versos do belo samba na voz vigorosa do formidável Jamelão.
A escola campeã foi a Vila Isabel, com Martinho à frente, cantando um enredo que também tratava da composição étnica do povo brasileira, Kizomba, a festa da raça. A Verde-e-Rosa ficou em segundo lugar. Isto não diminuiu a perfeição do seu desfile, uma bela interação de som e imagem. Veja só o refrão:
“… pergunte ao Criador,
pergunte ao Criador,
quem pintou esta aquarela.
Livre do açoite da senzala
Preso na miséria da favela…”
Orlando Brito