Uma fatalidade interrompeu a brilhante trajetória de atleta de João Carlos de Oliveira. Vitimado por um acidente automobilístico em 1980, teve a perna direita amputada. Aos 19 anos, “João do Paulo” quebrou o recorde mundial do salto triplo júnior, alcançando a marca de 14,75m.
Dois anos depois, no Pan do México, conquistou duas novas medalhas, de ouro: salto em distância, com a 8,19m, e triplo, dessa vez com 17,89m, tornando-se mais uma vez recordista mundial. A medalha olímpica, de bronze, veio nos Jogos de Montreal-76. Foi ao Pan de Porto Rico e voltou duplamente vitorioso nas duas modalidades em que era especialista.
Nas competições nacionais, subiu ao pódio em várias ocasiões, desde quando fora soldado do Exército. No Moscou-80, ficou com o terceiro lugar, sendo superado somente por dois soviéticos. Impossibilitado de competir, João Carlos esteve em Brasília para ganhar mais uma medalha, a do Barão do Rio Branco, no Palácio do Itamarati. Preso a uma cadeira de rodas, ele recebeu a homenagem das mãos de dois xarás, o presidente João Figueiredo e o embaixador João Augusto de Médicis.
Os três já morreram. O diplomata, em 2004. O general, em 1999. O atleta também, aos 45 anos, de cirrose hepática. Elegeu-se duas vezes deputado estadual por São Paulo, mas não conseguiu o terceiro mandato em 1994. Deprimido, refugiou-se no alcoolismo. João do Pulo, ao lado de Adhemar Ferreira da Silva, Nelson Prudêncio e agora Jadel Gregório, que está em Pequim, foi dos maiores destaques do atletismo brasileiro.
Acostumado a cobrir as de entregas de medalhas no Itamarati, achei estranho que na primeira fila de agraciados, destinada pelo protocolo para ministros, generais, almirantes, parlamentares e demais personalidades do primeiro escalão da República, estivesse João do Pulo.
Fiquei ainda mais surpreso porque, ao fim da cerimônia, o campeão foi o primeiro a receber os cumprimentos do presidente Figueiredo. A iniciativa de colocá-lo ali foi do Chefe do Cerimonial do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Médicis, o “Zoza”.
Mas a determinação de incluí-lo na lista de condecorados foi do próprio Figueiredo. Oficial da Cavalaria, o general sempre saltava nos torneios de equitação e sabia de cor os atletas que competiram pelas Forças Armadas. Era amigo de vários, por exemplo, do boxeador Luiz Faustino, seu ex-ordenança e que quebrara o braço numa luta contra George Foreman. Antes de voltar ao Palácio do Planalto, o presidente quis saber como estava o processo de aposentaria do xará João Carlos no Exército.