As agora internacionalmente chamadas fake news existem desde a Era de Adão e Eva. E nessa onda de notícias falsas que assolam nossos tempos, imagine você o volume delas que continuará a surgir, com praticamente todas as pessoas do mundo ligadas nas redes sociais.
Com certeza, veremos nas telas da Internet uma enxurrada de boatos, intrigas e inverdades. E a tal da pós-verdade. Aliás, o tema fake news até virou motivo para uma CPI no Congresso brasileiro.
Hoje o mundo se comunica de todas as maneiras. Pelas redes sociais, pelas mensagens trocadas nos e-mais, falando nos telefones celulares, nos zaps, pela televisão, jornais e rádio, por anúncios etc. As fake news tornaram-se grande preocupação, afinal seus efeitos causam danos morais, demolem biografias e dão versões ilusórias do que acontece. E sobretudo do que não acontece.
Os boatos vêm de longe, como disse.
Estamos em Roma, no ano de 1501. O cardeal Oliviero Carafa encontrou esquecida em um canto do Palazzo Orsini, onde morava, uma estátua esculpida no Século III antes de Cristo. Era uma escultura que reproduzia a luta de Hércules contra o centauro. O bispo determinou, então, que a assentassem na esquina de sua residência com a Piazza Navona.
Além de decorar o lugar, a imagem de mármore passou a ser também o local onde a população fazia suas queixas e comentários sobre acontecimentos da comunidade. Todas as manhãs, porém, apareciam afixados na calada da noite cartazes apócrifos, bilhetes, protestos, calúnias e fofocas, é claro.
Nas proximidades da Piazza Navona havia um barbeiro chamado Pasquino, conhecido pela língua ferina. Fofoqueiro contumaz. Era um boateiro de primeira. Não tardou a estátua ser batizada com o nome do tal barbeiro que adorava bisbilhotar a vida alheia. A estátua transformou-se em tribuna popular. Servia para difundir mentiras e verdades. E, sobretudo, distorcer fatos.
Até hoje é espaço que os romanos utilizam para colar críticas contra o desempenho das autoridades e a reputação dos moradores da vizinhança. Evidentemente, nem tudo é notícia verdadeira. Acredite quem quiser.
Pois bem. Por representar símbolo de liberdade de expressão, foi o nome que Paulo Francis, Jaguar, Stanislaw Ponte Preta, Ziraldo, Tarso de Castro e Henfil deram ao Pasquim, o jornal-tabloide que foi sucesso editorial do Brasil nos idos de 1970 porque não media palavras para dizer o que bem entendesse.
O Pasquim era lido por milhares de brasileiros. Era jornal referência de bom-humor, audácia e destemor jornalísticos na época do regime militar. Portanto, era leitura costumeira também para mim, jovem fotógrafo.
Em 1986, encontrei-me durante a cobertura de uma viagem presidencial ao Vaticano, com um casal de amigos que morava em Roma, ele correspondente d’O Globo, e ela lendária jornalista do Pasquim.
Levaram-me para ver o Pasquino, a obra de arte que ficou conhecida como uma das estátuas falantes da Itália. Fica bem pertinho da Piazza Navona – onde, aliás, está localizado o Palazzo Pamphilli, a bela sede embaixada do Brasil. Evidentemente, não perdi a chance de fazer essa foto aí.
Orlando Brito