Vendo agora que o mundo vive nova crise do combustíveis — em decorrência do atentado e explosão dos poços e refinarias de petróleo da Arábia Saudita — vale recordar as décadas de 1970 e 1980. Nessa época a OPEP, Organização dos Países Exportadores de Petróleo, fez subir o preço da gasolina, com reflexo direto nas tarifas de transporte e no bolso de todos os cidadãos do planeta.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, acusa o Irã de terrorismo. Há, na verdade, uma guerra de versões. Estamos, enfim, observando o clima de crise internacional.
Em 1974 aconteceu a maior de todas as crises no campo do petróleo, com aumento que chegou a 300 por cento para o consumidor nas bombas de abastecimento. Dizia-se que responsável pela ideia era o sheik Ahmed Zaqi Yamani, ministro dos Recursos Minerais da Arábia Saudita e também membro da OPEP.
Yamani era, naquela época, sem dúvida, um dos homens mais importantes do planeta. Tanto que foi o principal refém do terrorista Carlos, o “Chacal”, no cinematográfico sequestro de altos executivos de empresas petrolíferas, em Viena, em 1975.
Para não ficarem reféns tão somente dos derivados do petróleo e seus preços, alguns países se apressaram em aprofundar pesquisas de outras fontes de força motriz. Por exemplo, as energia solar, eólica, gás metano, hidrlétrica, óleo vegetal, do etanol, o álcool combustível derivado de cana-de-açúcar. O Brasil foi um deles.
Em 1982, o sheik Ahmed Yamani resolveu conhecer de perto as potencialidades energéticas do Brasil. Veio ver principalmente o audacioso Projeto Pró-Álcool, a alternativa de combustível que mostrava ser eventual concorrente do petróleo. Para recebê-lo em Brasília o governo do general João Figueiredo estendeu tapete vermelho e destacou dois diplomatas de primeiro time para acompanhá-lo em todo seu trajeto os embaixadores João Augusto de Médicis e Roberto Abdenur. No Itamaraty, condecorou-o com a medalha de Rio Branco.
O sheik veio a bordo do Boeing privado, no qual as refeições eram servidas em talheres de ouro. Eu era fotógrafo da Veja e a revista conseguiu que repórter Dácio Malta e eu embarcássemos com o rei do petróleo, Yamani. Durante uma semana, acompanhamos o sheik em seus voos pelo Brasil, de Manaus a Brasília, Foz do Iguaçu, Rio e São Paulo.
Passadas mais de três décadas, muita coisa mudou. Com a morte do rei saudita Faissal, o sheik Zaqi Yamani – hoje quase noventão – foi demitido pelo príncipe Khaled. Mudou-se para Londres, onde fundou o Centro de Estudos de Energia Global. O petróleo continua sempre motivo de crises ente países, o Brasil transformou-se no segundo maior produtor de etanol do mundo e é menos dependente da gasolina estrangeira.