Altamira, no Pará, na beira da rodovia Trans-Amazônica, fim da década de 1970, época em que o desmatamento era algo tão comum que praticamente ninguém se incomodava ou protestava contra a degradação da natureza.
O uso de motosserras era algo bem contumaz, costumeiro. Até os bares tinha para vender as máquinas de ceifar florestas. Eram expostas sobre troncos de árvores já cortadas como destaque e peça de modernidade.
Um fotógrafo de notícias tem de ter olho atento para tudo que o cerca, mesmo parecendo-lhe corriqueiro aquilo que enxerga. E essa foto aí é um bom exemplo disso. Naquele tempo eu era fotógrafo do jornal O Globo e muitas vezes, em inúmeras ocasiões, viajei para a Amazônia para reportagens sobre a nova fronteira brasileira.
Esta cena aí — à época considerada tão banal, que retratei sem nenhum capricho visual, da janela de um jipe em movimento — hoje representa pecado mortal contra o meio-ambiente. Durante a construção da BR-230, estrada que fazia parte do projeto de colonização da Amazônia, o governo incentivava a ida de colonos para a região.
As máquinas de ceifar árvores eram peça essencial para tombar as florestas e possibilitar a posse da terra. Agora, passados mais de quarenta anos, o ritmo da devastação não mudou.
Orlando Brito