A boa notícia que vem da fusão DEM & PSDB

Uma das providências para garantir a saúde de nossa teimosa democracia é a racionalização partidária. Quanto menos partidos tiverem assento no Parlamento, melhor. Aprovada em 2017, a Emenda Shéridan representou impulso decisivo

O governador de São Paulo, João Doria, e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia / Foto: Fábio Pozzebom

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, expoente do DEM, e o governador de São Paulo, João Doria, que tenta se apoderar do PSDB, anunciaram que a fusão das duas agremiações partidárias é uma “forte possibilidade”. Sem dúvida, se vingar, será uma boa notícia para a vida política e parlamentar.

Poucas características são mais deletérias à democracia brasiliana do que a miríada de partidos que habitam a vida legislativa. São 26 partidos representados na Câmara e 17 no Senado.

O Brasil tem 33 partidos, de acordo com a Justiça Eleitoral. No TSE, outros 76 estão em formação.

Protesto contra a Lei do Abuso de Autoridade em frente ao Palácio do Planalto / Foto: Orlando Brito

Por mais frouxas que sejam as ideias, difícil supor que existam tantas ideologias. E, caso houvesse, difícil crer que cada nova sigla represente uma ideia.

A maior parte dos partidos são apenas ajuntamentos de interesses. Outros, fábricas de arrecadar os cada vez mais obesos fundos partidário e eleitoral.

Aos trancos…

Diferente de boa parte das siglas, PSDB & DEM têm formação histórica mais sólida.

Os tucanos surgiram no início de nossa jovem e atribulada democracia. São uma costela do partido da resistência à ditadura militar, o MDB.

Já os hoje democratas fazem parte de uma linhagem que surgiu durante o regime dos generais-ditadores. Primeiro foi a Arena, sustentáculo político da ditadura. Na esteira, vieram o PDS e o PFL.

Qualquer um pode desgostar de ambos, mas não se lhes pode negar personalidade. O PSDB, mesmo esmaecido pela chegada da frota de novatos, representou desde o início a social-democracia, uma esquerda light que não se opõe a ditames da economia liberal.

Herdeiro da Aliança Renovadora Nacional, que buscava dar verniz democrático ao regime dos generais, o DEM pouco tem a ver com sua avó. Mas, assim como o PSDB, defende a economia de mercado.

A fusão, assim, parece natural. Mesmo que não o fosse, o enxugamento partidário é salutar à continuidade democrática nacional – que, apesar dos solavancos, resiste há 34 anos.

…e barrancos

Nossa infinidade de siglas é disruptiva. Nas democracias consolidadas, são poucos os partidos que se revezam no poder. Aliás, outra característica saudável de democracias longevas: alternância no poder.

A eventual associação das duas agremiações é também consequência da importante reforma aprovada pelo Congresso Nacional em 2017. Costurada pela deputada Shéridan Estérfany, a nova legislação trouxe duas importantes inovações.

Deputada Shéridan Estérfany no plenário da Câmara 
/ Foto: Orlando Brito

A emenda constitucional determinou o fim das coligações proporcionais, estímulo às alianças desconexas com o fito único de formar bancadas mil e abocanhar os fundos irrigados pelo erário – além de eleger os sem-votos. Na mesma reforma eleitoral, ficou estabelecido que os partidos, para sobreviver, precisariam atender uma cláusula de desempenho mínima.

O pulo do gato da jovem parlamentar foi estabelecer uma implantação escalonada das duas novas regras. Sempre é mais fácil aprovar uma novidade que não vale para a legislatura hodierna.

Além disso, a parlamentar negociou a redução das exigências à sobrevivência de um partido. Seus efeitos já foram sentidos no pleito de 2018.

Difícil encontrar alguma qualidade nos 21 anos em que os generais desmandaram no País. O sistema bipartidário, porém, mesmo sendo uma imposição do regime, foi uma delas.

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