Em 2017, o fotógrafo Orlando Brito publicou a foto do ex-ministro Maurício Corrêa e a liderança Yanomami Davi Kopenawa. Ele contou detalhes de como a foto foi feita na época, início dos anos 1990.
Diante dos últimos acontecimentos envolvendo os indígenas, resgatamos esse relato histórico para mostrar que vem de longe o sofrimento do povo Yanomami.
Segue relato:
Vem de longe o conflito por terras no Brasil com envolvimento dos índios.
Roraima 1993: um grupo de garimpeiros invadiu o território dos yanomamis e matou dez crianças, sete mulheres e dois homens. Maurício Corrêa, então ministro da Justiça no governo Itamar Franco, resolveu ir ele mesmo ver de perto a gravidade da situação na aldeia de Homirú.
Maurício, que já havia enfrentado de dedo em riste os soldados no período militar, quando fora presidente da OAB e demonstrara sua capacidade de bom negociador como senador pelo Distrito Federal, teve de ouvir as reclamações veementes de Davi Kopenawa Yanomami, um dos líderes indígenas mais respeitados dos fóruns internacionais relacionados ao tema. Pintado para a guerra, Davi reclamava dos desacertos da política indigenista brasileira.
Como foi – Meses antes dessa foto aí, fotografei Davi Kopenawa em Brasília. Ele e outros índios participavam no Palácio do Planalto da cerimônia de demarcação das terras de seu povo. O clima era de festa e o líder dos Yanomami estava sorridente, vestia camisa xadrez, usava um colar decorado com penas de periquito e dentes de macaco. O rosto pintado de vermelho era sinal de tempos de tranqüilidade.
Mas quando desembarquei do monomotor na pista que se chama Saddam Hussein no posto da Funai e o vi pintado de preto e acompanhado de outros guerreiros armados de flechas, não tive dúvidas de que a situação era feia. E era mesmo. Ao contrário daquele dia no Planalto, Davi não deu uma palavra senão aquelas, duras, que dirigiu ao ministro.
Passados todos 24 anos, Davi Yanomani se consolidou como uma das importantes lideranças indígenas do Brasil, voz ouvida onde quer que vá falar sobre o tema.