Por Ricardo Miranda
A morte de um grande jornalista é sempre algo que abate profundamente, com o agravante de que já não se produz tantos grandes profissionais, na era da comunicação on line, instantânea e não checada e das redações juvenilizadas. E do momento grave vivido pelo país, que precisava tanto de gente do quilate de Audálio Dantas. A vida levou hoje – mas a história não levará nunca, o eterniza desde já – este grande jornalista, que padeceu, aos 88 anos, em São Paulo, finda a luta contra um câncer contra o qual guerreava há vários anos. A vida foi mesmo de luta para Audálio, de um tempo em que não havia dúvida contra o que enfrentar.
Dantas foi presidente do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo em 1975, ano do assassinato do jornalista Vladimir Herzog, o que o consagrou como referência na luta pelas liberdades civis, premiado pela ONU com o Prêmio de Defesa dos Direitos Humanos. Dantas, em plena ditadura militar, foi uma das principais vozes a denunciar a tortura e o assassinato de Vladimir Herzog, torturado e morto no DOI-CODI – o que contrariava a versão oficial do governo, de suicídio. Ver Audálio partir dá uma pena danada dessa gente que hoje prega intervenção militar e outras baboseiras.
Ele foi o primeiro presidente eleito por voto direto da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e deputado federal pelo MDB de São Paulo na década de 1970. Como jornalista, Dantas trabalhou nas revistas O Cruzeiro e Quatro Rodas e no jornal Folha da Manhã (atual Folha de S.Paulo). Audálio Dantas nasceu em Tanque D’Árca, nas Alagoas, em 1929, era casado com Vanira Kunc e pai de quatro filhos. O guerreiro da democracia viverá para sempre em nós. Nesses tempos sombrios que estamos vivendo, como disse o jornalista Moacir de Oliveira Filho, vai nos fazer muita falta.