Onde está todo mundo?

Em 2013, participei de todas as manifestações contra a corrupção. Eu não queria apenas a queda do governo Dilma. Eu desejava mudanças profundas. Em tudo. Vi surgirem “movimentos sociais” que pareciam promissores na mudança do país. Eles lideraram as saídas para as ruas e até conseguiram mobilizar pessoas, instituições e entidades. Contudo, o impeachment da Dilma parecia ser o único motivo pelo qual aqueles “líderes” se moveram. Não era. Começaram a pedir dinheiro, vender camisas e uma falsa ideologia.

Em 2016, nas eleições estaduais, quase todos lançaram seus candidatos. Elegeram alguns. E o brasileiro, que é gado, e precisa de alguém gritando palavras de ordem para sair do sofá, se perdeu. Está no limbo das manifestações via internet. Como se fazia nos bares, antigamente. O vírus da descrença e da catatonia nos alcançou e, acomodados que somos, deixamos o “gigante” adormecer e o país estagnar.

O povo está sem emprego e sem perspectivas de melhoras. Mas parece esperar que, por um milagre, as coisas mudem. Vejo as fotos que fiz durante as manifestações de 2013, e sinto como se as milhares de pessoas retratadas fossem apenas bonecos programados para participar de um evento para a foto do Facebook. Onde está todo mundo? Parados na fila dos postos? Comprando TVs em 20 prestações para assistir à copa do mundo? Acabando com os estoques dos mercados à espera do apocalipse zumbi? “Sentado no trono de um apartamento caro e alugado, esperando a morte chegar”? Transmitindo memes da crise pelo WhatsApp enquanto toma café de pijama?

Tempos difusos nos Três Poderes. Foto Orlando Brito

Honestamente, estou triste. Estou cansada. Decepcionada. Os três poderes foram tomados de pessoas egoístas. Só se legisla em causa própria ou a favor de quem paga mais. Vejo pessoas criticando os corruptos e os inúmeros benefícios que os servidores públicos recebem, mas, ou são servidores que não querem perder a boquinha, ou estão prestando concurso público….
Falam mal da corrupção, mas se calam quando um conhecido tira proveito de uma situação. Se calam quando leem que o dinheiro da merenda escolar foi roubado…

Reclamam do povo, mas passam pelo acostamento ou furam a fila para ganhar tempo. Jogam lixo no chão ou garrafas pela janela. Acham ruim quando um homem mexe com a sua mulher, filha e esposa, mas nunca ensinaram o filho a não fazer o mesmo. Então, concluo que não foram somente os governos PT/PMDB etc. que colocaram o país nessa merda fedorenta e inacabável.

Foi você, fui eu, foram nossos filhos, pais e avós. Nós nunca nos levantamos da cadeira para lutar seriamente contra a cultura do jeitinho. Muito menos contra essa politicagem bandida e assassina que rege o Brasil desde sempre…
Aliás, a culpa é de Pedro Álvares Cabral. Ele nunca deveria ter “descoberto” o Brasil.

– Taís Morais é jornalista, pesquisadora da ditadura militar, mestre em Comunicação e ganhadora do Prêmio Jabuti de Melhor Livro de Reportagem, com “Operação Araguaia”

Deixe seu comentário