A reunião de instalação da Organização das Nações Unidas, em 1947 – criada logo após a Segunda Guerrra mundial para congregar os países de todo o mundo – foi presidida pelo embaixador Oswaldo Aranha, nascido no Rio Grande do Sul. Por isto, virou tradição um delegado brasileiro fazer o discurso de abertura anual dos trabalhos da entidade sediada em Nova Iorque.
De lá para cá, vários presidentes brasileiros viajaram aos Estados Unidos para cumprir tal primazia, a abertura da Assembleia-Geral da ONU, sempre nos dias 22 de setembro. Normalmente, fazem discursos não propriamente sobre as questões internas do país, mas um olhar sobre a conjuntura internacional, embora alguns deles incluam o Brasil em suas orações.
Quando esteve na ONU em 2019, Jair Bolsonaro referiu-se a um tema que sempre esteve na pauta do concerto das nações: a preservação do meio-ambiente. Meses antes, o presidente Emmanuel Macron, da França, pedira sanções ao Brasil por descuidados com o desmatamento e a devastação na Amazônia. Em resposta, Bolsonaro disse: – A floresta está intacta.
Em 2020, com o agravamento da pandemia da Covid, Bolsonaro participou não presencialmente, mas por via remota, em discurso através da Internet. Disse de suas providências contra o vírus, da distribuição de recursos do governo para pessoas de baixa renda e acusou a imprensa de “disseminar o pânico”. Segundo ele, uma campanha que “quase trouxe o caos social ao país”. Naquela época, o número de mortos pela Covid no Brasil era de 138 mil. Hoje se aproxima de 600 mil.
Nessa terça-feira, Jair Bolsonaro ocupará novamente a tribuna das Nações Unidas para a abertura da 76a. sessão. A ONU fez uma exceção e relaxou a necessidade de ele não ser vacinado contra a Covid para fazer-se presente. De sua comitiva fazem parte oito ministros, além do filho Eduardo e da primeira-dama Michelle. Não se sabe o teor de seu discurso. Mas antecipou que vai “falar verdades”.
Resta saber se estão dentre essas verdades o incentivo que dá à restrição às terras indígenas; o agravamento da devastação e desmatamento das florestas no Brasil; o custo de vida; o desemprego; as constantes ameaças que tem feito à democracia com a não realização de eleições e intervenção militar em outros poderes da República.