Em 1992, coube a mim, fotógrafo da Veja, retratar alguns dos nomes escolhidos pela revista para edição daquele ano com personagens que foram destaque no cenário nacional. Um deles era Betinho, o apelido de Herbert de Souza, personalidade importante por vários aspectos. Primeramente por sua incansável luta contra as desigualdades sociais. Sua opinião crítica ao regime militar o obrigou a se exilar no Chile, Canadá e México. Só retornou ao Brasil após a Anistia de 1979.
Herbert é citado pelos compositores João Bosco e Aldir Blanc na canção “O bêbado e a equilibrista”, imortalizada pela cantora Elis Regina. O sociólogo mereceu versos que cantavam: “… meu Brasil, que sonha com a volta do irmão do Henfil, com tanta gente que partiu…”. Betinho era realmente figura notável.
Henfil, consagrado cartunista que se notabilizou no extinto jornal O Pasquim, igualmente a seu mano Betinho sofria de hemofilia. Por esta razão, ambos tinham que submeter-se a sucessivas transfusões de sangue. E, numa delas, Herbert acabou contraindo AIDS. Faleceu em agosto de 1997, aos 62 anos.
Aproveitei a presença de Betinho no Congresso, em Brasília, para fotografá-lo. Escolhi o ambiente calmo do Salão Negro do Senado, lugar sóbrio e com luz adequada para o retrato de um personagem de sua grandeza. Eu sabia de sua timidez e da aversão à badalação. Por isto, quando lhe falei do intuito daquela imagem, citei o escritor colombiano Gabriel Garcia Márquez: ”– A vida não é somente uma pose para fotografia”. Mas, complementei, dizendo do quanto era importante sua presença no “Livro do ano” da revista.
Foram esses aí, enfim, os clics que fiz do lendário e saudoso Betinho, batalhador incansável na luta contra a fome e a pobreza.
Orlando Brito