Virou moda ou movimento recomendado por marqueteiros a mudança de nome dos partidos. Uns, chamam de refundação. Outros, de necessidade de atualização com eleitorado. Porém, não se pode prever qual resultado prático e objetivo isto terá na próxima eleição.
O eleitor, em meio ao emaranhado de fatos e nomes – com milhares de candidatos a vereador, prefeito, deputado federal e estadual, senador e presidente – com certeza terá problemas para se identificar com as novas siglas. É uma verdadeira profusão de letras que com certeza irá gerar confusão e trazer complicações na hora de fazer sua escolha na urna. Quem sabe, até eleição de 2018 o brasileiro esteja familiarizado com profusão de siglas e as letrinhas correspondentes a elas?
O PMDB tem intensa presença na história recente do Brasil. É o mais robusto partido do País, com o maior número de prefeituras e diretórios em quase todos os municípios. Possui mais de 60 deputados federais e a mais numerosa bancada de senadores, além do presidente da República. Agora quer seguir também a modernidade que virou onda na política: mudar de nome. Pretende dar um passo à frente para ficar atualizado. E a receita para isto é voltar no tempo, ao passado. Rebatizar-se como MDB.
Isso mesmo, voltar ao nome que já teve, Movimento Democrático Brasileiro. Retornar aos tempos em que reunia em uma só agremiação nomes que formaram a oposição no período dos governos militares. Volver à Era de Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Thales Ramalho, Fernando Lira, Marcos Freire, Teotônio Vilela, Mário Covas, Franco Montoro, Dante de Oliveira, Freitas Nobre e tantos outros democratas. Com a chegada da redemocratização, em 1985, da Constituição de 1988 e de reformas políticas, muitos partidos foram criados. E hoje são dezenas.
O enunciado do edital de concurso que pretende mudança de nome do PMDB tem as seguintes palavras:
— O PMDB está mudando. Sempre fomos MDB, mas a ditadura nos obrigou a mudar de nome. Vamos agora deixar o “P”, de partido, no passado e voltar ao nome de nossa fundação: Movimento Democrático Brasileiro. Não se trata de uma mera alteração. Essa mudança simboliza um novo momento do nosso partido e da política brasileira. Vamos reforçar nossos valores históricos e nos aproximar ainda mais das vozes das ruas. Queremos mais participação popular na vida do partido e isso começa na definição do nosso nova marca.
O PMDB pretende seguir o exemplo do PTC, Partido Trabalhista Cristão, do senador Fernando Collor, que já foi PRN, a mesma legenda que o elegeu, em 1989. O agora o Progressistas, já foi PP e PTR. O atual PPR, já foi PDC. PSN foi criado em 1998 e dois anos depois virou PHS. Bom lembrar que o PRB era o PMR. O PTN, dos senadores Álvaro Dias e Romário, tornou-se há meses, o Podemos. Atenção para não se confundir.
Bom recordar que o Solidariedade é o mesmo SD, que já atendeu por SDD. E que o PSDC, ou seja, Partido Social Democrata Cristão, simplificou seu nome. Agora é só SD, mas quer cambiar para Democracia Cristã. Não se surpreenda porque o atual PTdoB virou Avante. Assim como o PSL, transformou-se em Livres. Lembre-se que o PEN, do deputado e candidato a presidente Jair Bolsonaro, já está virando Patriotas.
O PCB, Partido Comunista Brasileiro, o lendário “Partidão” de nomes conhecidos como Luís Carlos Prestes e Roberto Freire, agora se chama PPS, Partido Popular Socialista. O PFL, Partido da Frente Liberal de tantas histórias e que foi decisivo na transição do período do regime militar para a Nova República, mudou o nome para DEM. Depois, modificou novamente, para Democratas. E agora terá nova versão: Centro Democrático.
Não falamos do Partido Novo, nem dos que podem surgir até as eleições. Nem do PRONA, do falecido Enéas Carneiro. E do RAIZ, que a que a ex-prefeita de São Paulo, Luiz Erundina, não conseguiu fazer decolar. Mas é bom lembrar também que, com a aprovação das novas regras para a existência de legendas, a PEC da deputada Shéridan Oliveira, do PSDB de Roraima, muitos deles poderão ser extintos, incorporados a outros.
Para os conhecedores da seara do poder, essa sopa de letras é o reflexo de algumas realidades. Por exemplo, o receio que os partidos têm em ser afetados pela enxurrada de malfeitos de seus filiados expostos diariamente na mídia. E, possivelmente, da vergonha que alguns de seus próprios membros tenham de si mesmos.
Bom lembrar ainda que paira no ar a possibilidade de uma emenda que permita alguém ser candidato sem a hoje necessária partidária. Quem sabe seja a chance de você — que não tem ficha assinada em nenhuma dessas siglas — concorrer a uma vaga de deputado, senador ou mesmo presidente?