Roma. 1501. O cardeal Oliviero Carafa encontrou esquecida em um canto do Palazzo Orsini, onde morava, uma estátua esculpida no Século III antes de Cristo. Era uma escultura que reproduzia a luta de Hércules contra o centauro. O bispo determinou, então, que a assentassem na esquina de sua residência com a Piazza Navona.
Além de decorar o lugar, a imagem de mármore passou a ser também o local onde a população fazia suas queixas e comentários sobre acontecimentos da comunidade. Todas as manhãs, porém, apareciam afixados na calada da noite cartazes apócrifos, bilhetes, protestos, calúnias e fofocas, é claro.
Nas proximidades da Piazza Navona, havia um barbeiro chamado Pasquino, conhecido pela língua ferina. Não tardou a estátua ser batizada com o nome do barbeiro que adorava bisbilhotar a vida alheia. Virou tribuna popular. Até hoje é espaço que os romanos utilizam para colar críticas contra o desempenho das autoridades e a reputação dos moradores da vizinhança.
Por representar símbolo de liberdade de expressão, foi o nome que Paulo Francis, Jaguar, Stanislaw Ponte Preta, Ziraldo, Tarso de Castro e Henfil deram ao Pasquim, o jornal-tablóide que foi sucesso editorial do Brasil nos idos de 1970 porque não media palavras para marcar oposição ao governo do militares.
Como foi – O Pasquim era lido por milhares de brasileiros enquanto. Era jornal referência de bom-humor, audácia e destemor jornalísticos na época do regime militar. Portanto, era leitura costumeira também para mim, jovem fotógrafo. Em 1986, encontrei-me durante a cobertura de uma viagem presidencial ao Vaticano, com um casal de amigos que morava em Roma, ele correspondente d’O Globo, e ela lendária jornalista do Pasquim. Levaram-me para ver o Pasquino, a obra de arte que ficou conhecida como uma das estátuas falantes da Itália. Fica b em pertinho da Piazza Navona – onde, aliás, está localizado o Palazzo Pamphilli, a bela sede embaixada do Brasil. Evidentemente, não perdi a chance de fazer essa foto aí.
Orlando Brito