Eu juro que tento esquecer as trapalhadas do PT, mas não consigo. Antes, achava que era síndrome de ex, que não deixa a antiga companheira viver em paz. Depois, vi que não há relação com amor, é só política. Descobri também que tem a ver com minha formação e ofício. Como trabalho com marketing político, estou sempre atento às novas linguagens, às avaliações de cenários, às estratégias e às pesquisas eleitorais. Por causa da minha formação acadêmica, Comunicação e História, olho para o futuro e também para o passado. E é exatamente por isso que morro de inveja da capacidade do PT de criar narrativas, cenários, versões, e insistir, insistir, até ninguém mais contestar a criação de uma falácia. São muitos os exemplos. Sem obedecer à cronologia exata, vou lembrar alguns.
1. Copa do Mundo. Os Enroladinhos do PT pularam de alegria nos sites da resistência (outra falácia) por causa do desinteresse da população com a Copa. Para eles uma prova de que o povo condena o governo e o uso da camisa da seleção em protestos. E falando em seleção, eles são mesmo craques em se autoatribuir resistência e sabedoria inigualáveis, mas que não passa de soberba. São craques mesmo é em tirar a bunda da seringa. Ora, faz apenas quatro anos o País foi sede da Copa. A propaganda ufanista alardeava a Copa das Copas. A Copa do legado para a população com investimentos maciços em transporte, saúde e equipamentos esportivos. A presidente de então, com o jogo de cintura característico, posou de “mano”, fazendo gracinha. Foi vaiada e alvo de xingamentos grosseiros, mas ela e o partido fizeram ouvidos de mercador, usaram e abusaram da então mídia estatal para combater a oposição. Na mais interessante das narrativas, a vaia que ela levou no campo do Corinthians começou num camarote de artistas. Pronto, não foi o povo que vaiou, mas a Globo. E o jogo seguiu, foram sete gols da Alemanha e três da Holanda, que proporcionaram o maior vexame da história de todas as Copas. Com o fim do certame (só os antigos ainda falam certame), a população recebeu a conta e conheceu o verdadeiro legado. Estádios superfaturados, viadutos inacabados, obras abandonadas e uma radiografia nua e crua dos desvios de dinheiro público em todas a sedes escolhidas pela Fifa (que merece um capítulo à parte). Então, no jogo que perderam, a culpa é do juiz. É muita cara-de-pau.
2. E o Papa mandou um rosário para o Lula. Mentira propagada como se verdade fosse para valorizar o líder carismático, mas que está preso. Não havia mensagem, carta, nada. Só mais uma versão fantasiosa da máquina de bater bumbo usada com a eficiência do partido.
3. O golpe. Mais um uso competente da junção da criatividade com a capacidade de insistir. Inventaram o jabuticabão, o que foi sem nunca ter sido, sem prisão, sem cocorote, sem peteleco. Os líderes do jabuticabão se lascaram, inaugurando na história o primeiro golpe em que os autores estão presos, mortos-vivos, escondidos ou simplesmente viraram zumbi. E a academia agora tá aí, tentando emprestar ares de tese à “narrativa do golpe”, na verdade um movimento legal, constitucional, com apoio popular e que, provavelmente, evitou piorar a maior recessão da história provocada pela incompetência do governo anterior.
4. A herança maldita. A crise econômica, o desemprego, a violência, os péssimos índices nos cotejamentos da educação, a irresponsabilidade fiscal, o descaso com o meio ambiente, a opção pelo transporte individual, nada disso é culpa dos desgovernos Dilma. A culpa é do Temer. Ora, o Temer também é herança do PT.
5. Urna não é juiz. Pesquisa eleitoral não é salvo-conduto.
6. Político preso não é preso político.
No mais, haverá Copa, e o time do Brasil é bom. João Saldanha, ex-técnico do Botafogo e da seleção, jornalista esportivo e comunista de carteirinha, alertava os mais jovens que política e futebol não se misturam, assim com água e óleo. Podem tentar reescrever a história, faz parte da disputa política, mas não subestimem a memória e a inteligência alheias. Vocês do PT já conseguiram o grande truque: convencer alguns de que o partido é de esquerda. Oh, raça competente.