Tentei muito, muito, mas é impossível fugir de comentar a execução criminosa da vereadora Marielle Franco. É simplesmente inacreditável a quantidade de absurdos escritos por defensores radicais dos lados antagonistas da atual conjuntura. Fui lendo e anotando excrescências expelidas por cada lado. E algumas coisas me assustaram. Primeiro, por paradoxal que seja, há um comportamento comum aos dois lados. Todos têm a capacidade de vaticinar verdades absolutas e, sem qualquer contradição, propagar mentiras absolutas. Outro ponto comum é sobre a natureza do crime. Ambos concordam que foi um crime político. E, no caso, estão certos, é assim mesmo que tem que ser encarado: foi político. O que é diferente de ser partidário.
A direita tenta desqualificar Marielle e relativizar a repercussão do crime. Coteja a morte dela com outras mortes que tiveram menos espaço. Usa e abusa do discurso fascista de que ela defendia bandidos e parte para a homofobia. Há ainda um rol grande de
absurdos, notícias falsas e mau-caratismo explícito. Divulgam o mapa de votação da vereadora como uma peça acusatória. Segundo esse tipo de gente, a atuação política dela só poderia ser efetiva se tivesse sido votada pelos pobres. Ora, o importante era a ação política e não de onde vieram os votos. Aliás, nas favelas cariocas predominam os votos para os indicados pelas milícias, traficantes e igrejas pentecostais.
Os petistas tentaram e ainda tentam surfar na onda de indignação que tomou o País. Nesse lado, a falta de caráter nadou de braçada também. Sem qualquer traço de vergonha na cara, dirigentes, parlamentares, adeptos e seguidores partiram mais uma vez para narrativas que buscam justificar a tese do golpe jabuticaba. Textos e mais textos transformaram a vereadora na Joana D’Arc da causa deles. E olhe que nem do PT ela era. Por fim, em nota, compararam o brutal assassinato de Marielle com o perrengue pelo qual passa o líder e apenado ex-presidente. Tentam ainda criar teses sociológicas rasas para justificar suas crenças cegas. Desde que começou o processo para afastar a irresponsável da Dilma, a rapaziada busca encontrar um cadáver. Desta vez, acharam que tinham conseguido. Não foi ainda. A sociedade não deixou. Assim como não abraçou as versões desonestas.
Surpreendentemente, a melhor postura, a mais racional, é a da esquerda. Que tem analisado o episódio com sobriedade, sem leviandade e prega que a justiça seja feita e os assassinos punidos. Em alguns casos, o certo é seguir o dinheiro. Aqui, é saber a quem interessa essa morte.
Unanimidade mesmo só a TV Globo. Ninguém vê e todos criticam.