Os neoliberais vão botar um ovo com Jair Bolsonaro. Esta antiga expressão idiomática indica uma pessoa desavisada entrando num tremendo equívoco, tão grande quanto comprar gato por lebre. O capitão-candidato carioca é vendido ao povão como uma espécie de justiceiro primitivo, uma versão do troglodita Brucutu, personagem caricata da classe média baixa norte-americana, criado em 1932 por Vincent T. Hamlin, nos tempos em que os subúrbios das grandes cidades da Costa Leste eram assolados pela bandidagem da máfia italiana, combatida a ferro e fogo pelas metralhadoras do “intocável” agente Eliot Ness.
Bolsonaro seria a versão tupiniquim do “herói” do império de Mu que, com seu tacape paleolítico, impunha e lei e a ordem na Idade da Pedra. Entretanto, o professor de economia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), Rogério Furquim Werneck, mergulha nas profundezas da mente do pré-candidato e descobre que em vez de um “liberaloide” entreguista sob a pele de cordeiro está um nacionalista ortodoxo e estatizante, uma espécie de Hugo Chávez caboclo.
Veja o que diz o professor Werneck sobre as vagas ideias de política econômica do deputado: “Na pouca participação que teve no debate econômico, ao longo de todos esses anos, Bolsonaro jamais escondeu sua propensão visceral ao intervencionismo, sua incorrigível alma estatizante e o deprimente primitivismo das suas ideias nacionalistas. Não há programa de adestramento que possa transformá-lo, da noite para o dia, no prometido paladino do liberalismo econômico”, o diz o acadêmico depois de examinar a fundo a bagagem cultural de Bolsonaro.
Com isto, o titular da prestigiosa escola de economia da PUC-RJ desvenda um pouco da tendência ideológica do candidato. Embora não entenda da matéria, Bolsonaro seria, por instinto, predisposto a seguir uma linha semelhante à do falecido presidente venezuelano. É o nacionalismo intrínseco dos militares, formados para defender fronteiras e assegurar a soberania de sua bandeira.
Em comum, Bolsonaro e Chávez têm mais do que a farda e a formação em escolas de oficiais. Como guerreiros, ambos são paraquedistas, que são as tropas de assalto mais afoitas do sistema militar, uma espécie de raça superior nos quarteis. A diferença: Chávez subiu ao poder depois de amargar alguns anos de cadeia porque liderou uma quartelada e tentou dar um golpe militar do então presidente Carlos Andrés Perez, em 1992, voltando à política como presidente eleito em 1998; Bolsonaro só esbraveja e ameaça, mas chegou à política pelo voto democrático de seus conterrâneos fluminenses, em 1991 (um ano antes do bolivariano lançar-se em sua aventura golpista).
Outra diferença: não obstante seu estilo um tanto fanfarrão, Chávez era um homem de sólida formação intelectual, enquanto, segundo Werneck, Bolsonaro não oferece a mesma base cultural. Veja o que diz o professor: “A verdade verdadeira é que Bolsonaro, tomado pelo que de fato é, e não por fantasias do que poderia vir a ser, não tem nem estatura nem preparo para ser presidente. Além de outras carências fatais, faltam-lhe traquejo, habilidade e trânsito no Congresso para mobilizar o amplo e crucial apoio parlamentar que se fará necessário para a superação da crise atual” E conclui: “A esta altura, em meio ao atoleiro em que foi metido, o país já deveria ter aprendido, de uma vez por todas, quão desastroso pode ser entregar a Presidência da República a uma pessoa patentemente despreparada para o exercício do cargo”.
Werneck escreveu tudo isto e muito mais no Estado de S. Paulo. Só faltou dizer que esse tipo de liderança normalmente cria um inimigo externo para se justificar. Certamente vai sobrar para o “Grande Irmão do Norte”. Era o que faltava neste Brasil.