A boa receptividade à candidatura de Joaquim Barbosa pelo “mercado” deve-se a um fator insuspeitado pelos observadores da cena pré-eleitoral brasileira. A figura de um ministro da Suprema Corte, com sólida formação acadêmica, reputação ilibada e distante do ambiente político foi acolhido no exterior como um indício de que o Brasil pode recuperar a credibilidade e voltar a seu antigo lugar na comunidade internacional de negócios.
A oferta de um candidato politicamente correto, algoz dos corruptos e de forte conteúdo identitário (viés discutível para a campanha, segundo alguns segmentos do campo eleitoral do candidato) é sua base de lançamento. Entretanto, no exterior ele é visto como uma retomada do poder por um mandatário de grande estatura, capaz de levar para a administração seriedade e competência técnica.
Esses observadores externos não se detêm, nem conhecem, as peculiaridades do sistema político brasileiro. Sentado na cadeira presidencial, Barbosa, ou qualquer outro eleito, vai se defrontar desde o primeiro momento com as peculiaridades do sistema de governo de coalizão, que ameaçam por em cheque todas suas qualificações e voluntarismo. Não há como sair do toma-lá-dá-cá.
O que se diz é que uma raposa política seria mais adequada a esse ambiente, o que daria vantagem a um veterano como o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. No entanto, a figura de Joaquim Barbosa é mais fácil de explicar a interlocutores externos. Essa é uma percepção importantíssima para tirar o Brasil do buraco, no entender do “mercado”.
O “mercado” é uma instituição abstrata que, na verdade, é composto por uma fauna complexa integrada por investidores dos setores financeiro, industrial e comercial, donos ou executivos de bancos, indústrias e comércio em geral, desde botequins de esquina até grandes redes de magazines. São os que botam dinheiro na frente para abrir novos negócios. Em carne e osso, o “mercado” é formado por proprietários e executivos com poder de decisão. São esses que estão esperando conseguir dinheiro grosso no exterior para vencer a recessão renitente.
Um nome da estatura de Joaquim Barbosa poderia impressionar o mundo. Tem uma imagem poderosa para respaldar a credibilidade.
De uma maneira geral, a desconfiança externa é só teórica, vinda de um barulhão antibrasileiro, pois, de fato, o Brasil paga suas contas, o governo honra seus compromissos, os indicadores estão estáveis (como dólar e inflação, por exemplo) e o ambiente de negócios internamente está descolado dos impasses políticos. O que assusta o estrangeiro é a incerteza.
Contribui também para a desconfiança o abalo da imagem de grandes empresas brasileiras que operavam no mercado financeiro mundial, como a Petrobras, Odebrecht e outras. Deram prejuízo aos investidores, que são os fundos de investimentos em ações e papéis negociados no mercado aberto ou de títulos. É isto que precisa ser corrigido, cobra o “mercado”.
Por isso, um ministro da Suprema Corte poderia oferecer aos observadores mundiais um indicativo sustentável e defensável de que o Brasil volta à normalidade. O fato de Joaquim Barbosa ser um produto da indignação da classe média brasileira não conta nesse ambiente. O que vale é sua estatura formal.