A esquerda e o centro deveriam articular-se numa “Frente Ampla pelo Brasil” para retomar a marcha de volta ao poder, diz o senador Paulo Paim (PT/RS), sugerindo que com essa aliança os partidos derrotados se lancem a partir de duas catapultas: uma delas seria um exercício de composição no espaço estratégico de formar uma oposição consistente ao novo governo. A outra seria organizar efetivamente esses partidos e organizações paralelas para uma ação efetiva nas próximas eleições municipais. Ele dá a entender que a reorganização desse campo requer o exercício da convivência e da aglutinação em torno de objetivos comuns.
Diz Paim: “A política é muito dinâmica. Eu penso muito que o PT não pode continuar achando que só ele tem de ser cabeça de chapa, a nível estadual e a nível nacional. Podemos caminhar para uma composição mais ampla que olhe para todos, que saiba ceder para avançar. Quando você dá um passo para trás dá para dar depois dois ou três para a frente”.
O senador acompanha as movimentações nos bastidores e se mostra muito temeroso dos resultados de propostas que surgem no Congresso organizar uma bancada de oposição excluindo o PT: “Acho que é um equívoco excluir o Partido dos Trabalhadores da frente parlamentar. Na minha opinião, temos de chamar todos e dialogarmos entre todos e todos juntos fazermos a autocritica. Não vamos querer que só o faça PT a autocrítica. Se nós entramos nessa situação é porque faltou uma integração, que era possível. Nós perdemos a nível nacional porque não soubemos fazer a leitura do desgaste que recaia sobre o PT”.
O senador gaúcho fala escudado num resultado eleitoral espetacular: ele foi o único senador, dentre todos os partidos, da atual legislatura, que foi reeleito do centro para o Sul do Brasil, da linha Espírito Santo, Minas Goiás, Mato Grosso, descendo até o Arroio Chuí. Passando por São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Isto lhe confere alguma autoridade para procurar influenciar na formação da oposição ao governo de Jair Bolsonaro.
Ele expõe sua reflexão: “O centro e a direita vão governar a partir de 1 de janeiro. Claro que o projeto deles é diferente dos nossos. Entretanto, queiramos ou não foi pela democracia. Também nos Estados Unidos, a eleição de Donald Trump foi uma surpresa que ninguém esperava. Aqui, como a centro-esquerda não conseguiu unidade, elegeu-se Bolsonaro. Ganhou o candidato que, em tese, seria o menos provável. Aí a polarização que pegou, o Bolsonaro acabou se elegendo. Com apoio, queiramos ou não, amplo da sociedade. Tanto foi apoiado que não ganhou só ele. Ganhou também bancada. Foi um verdadeiro tsunami. No Senado, de 11 estados o único que voltou fui eu. No total, de 54 vagas só voltaram oito”.
Paim lembra que sua origem é o chão de fábrica (como Lula?). “Eu vim de fábrica, fui operário de indústria até os 33 anos. Nos exames de saúde, os médicos me perguntavam se eu fumava muito. Eu nunca fumei, respondia. Mas meu pulmão era comprometido. Eu trabalhava na fundição. Era aquela fumaça que sai do forno, ferro fundido com terra. Eu venho das forjarias. Tirei o curso no Senai e aí surgiu uma profissão que era escassa, o fazedor de moldes. Vou dar só um exemplo: pensa num motor de carro, aquela parte fundida, ferro. O modelista pega um desenho que é uma loucura, ele vai fazer uma conexão mecânica. Faz o molde de madeira, funde o primeiro e depois com esse modelo se fazem milhões iguais. Foi bom porque era uma especialidade muito bem paga”. Ele se refere a esse segmento industrial como matriz de sua postura: “Venho da indústria automobilista. Perguntaram para o Henry Ford como tirar o pai da crise. É só pagar bem, ele disse. Os EEUU saíram da crise ouvindo o conselho dele”. No governo Lula também foi o incremento da indústria automotiva de alavancou a economia.
Paim volta ao foco na frente ampla de partidos: “Na minha avaliação, essa forma de fazer política partidária e política sindical tem de evoluir. Se não mudarem esta receita, a próxima eleição vai ser mais um vareio daqui a dois anos”, diz usando o jargão futebolístico. “Não é esse ou aquele partido. Têm de ser todos, inclusive para eleger deputados estaduais e vereadores. O PT deveria se aproximar mais do PDT, do PSB, do PCdoB, do próprio PSol. São correntes de pensamento diferentes, mas têm pontos de convergência. Não excluo frações do PSDB histórico e do MDB; Roberto Requião é uma liderança que tem seguidores, inclusive no Rio Grande do Sul. Ciro Gomes é uma liderança. Não vejo problema nenhum dialogar como com Ciro. Tem de ser um processo natural. Ninguém pode negar que o Ciro é um cara muito preparado. Ele saiu-se bem na campanha. É preparado para o enfrentamento”.
Com as lideranças, eu penso assim, tem quem parlar (diz, deixando escapar o regionalismo italianizado de Caxias do Sul, sua terra natal), tem que interagir, que falar, que ajudar na construção do novo”, propõe entusiasmado.