Loas ou pedras aguardam o presidente brasileiro em Davos? A comitiva presidencial deixa o Brasil neste domingo com grande otimismo, com a perspectiva de que Jair Bolsonaro será a grande estrela do “meeting” mundial; já seus antagonistas europeus, ativistas de todas as causas possíveis e imagináveis, que estavam juntando pedras para jogar no presidente norte-americano Donald Trump, agora têm novo alvo. Como o gringo não vai, as atenções estarão voltadas para o líder emergente. Talvez Bolsonaro receba os dois: pedras e loas.
O teste de Davos é uma prova de fogo para o novo presidente. Ele pensa voltar da Suíça com vitórias significativas. É arrojado, próprio de um oficial paraquedista, que tem na formação a audácia de atacar o inimigo atrás de suas linhas. No grande evento, Bolsonaro pensa encantar a seus ouvintes capitalistas com sua fé neoliberal sem limites, para oferecer um país apetitoso a investidores, e descontar as perdas de grau de investimento que o Brasil sofreu nos últimos anos.
Já no caso das pedras e vaias, o presidente brasileiro também roubará a cena. Bolsonaro desembarca no ninho das ONGs europeias precedido de uma imagem à beira do repulsivo, construída na opinião pública internacional sem contestações pela comunicação do governo nacional. Desde a eleição, em outubro, quando seu nome passou a percorrer as mídias, que a figura do presidente e seus flashes, a maior parte descontextualizados, quase todos muito exagerados, formaram essa figura. Ele virou o pequeno Trump. E o Palácio do Planalto nada fez para reverter esse quadro. Veremos como se sai na Europa.
Além de tocar música para os ouvidos dos capitalistas de Davos, com suas ideias de economia e do papel do estado, Bolsonaro vai oferecer ao mercado uma das mais interessantes oportunidades de negócios da atualidade. É por isto que falará sobre a reforma da previdência que pretende aprovar no Congresso já neste primeiro semestre.
Quando falar de previdência, Bolsonaro não estará se referindo a proteção social, mas de investimento. A proposta que ele levará aos interlocutores é de converter o sistema brasileiro ao modelo de capitalização. Esse é o formato previdenciário vencedor no mundo atual: mesmo os países socialdemocratas mais empedernidos, como Suécia e França, estão migrando para a capitalização.
O sistema de repartição simples, inventado pelo estadista alemão Otto Von Bismarck, em 1880, e que vigora hoje no Brasil e em boa parte do mundo, entrou em colapso, com o envelhecimento da população. Em primeiro lugar: naqueles tempos a expectativa de vida de uma pessoa nascida na Europa era de 40 anos. Hoje é o dobro. Segundo: os cálculos atuariais da época atribuíam cinco anos de sobrevida média para um aposentado que deixasse de trabalhar aos 50 anos. Ou seja, cada benefício era coberto por oito contribuintes ativos. Isto acabou. Uma pessoa vive mais tempo aposentada do que na vida ativa, conforme a profissão e o sexo.
Em 1917 o empresário norte-americano Andrew Carnegie, preocupado com a sobrevivência dos professores de Nova York, criou o que hoje se chama de “Fundo de Pensão”. Nesse sistema o patrão entra com uma parte e o empregado com outra para formar um fundo de investimento, que somente poderá ser usado depois da aposentadoria. Isto gerou uma quantidade tamanha de recursos impensável naqueles tempos. Esse fundo de Carnegie, denominado TIAA-CREF, tem ativos no valor de 834 bilhões de dólares.
É com isto que Bolsonaro conta para encher os olhos dos investidores de Davos. A mudança do sistema brasileiro de repartição simples para capitalização vai trazer para o mercado financeiro as rendas de 62 milhões de contribuintes do INSS, que poderá chegar a mais de 100 milhões com a retomada do emprego formal e dos estímulos da nova legislação trabalhista. É muito dinheiro.
Esses sistemas já existem há séculos, chamados de entidades de auxílios mútuos. No Brasil, desde 1553, quando Brás Cubas criou a Santa Casa de Santos, no litoral paulista. O Previ do Banco do Brasil (o maior do País) existe desde 1903. Entretanto, essa fórmula desenvolvida pelo Dr. Carnegie só chegou o Brasil em 1977, com a lei 6.435, que criou as fundações (nome dos fundos no País) das empresas estatais. Hoje essas fundações são os maiores proprietários de imóveis do País e os controlados dos maiores ativos, depois do Tesouro Nacional (que por sinal, deve os tubos para as fundações).
Para ter acesso a essa dinheirama e trazer os fundos americanos para investir no Brasil, o governo tem que dar garantias. Bolsonaro poderá pleitear a recuperação do grau de investimento junto às agências de risco. Isto é essencial pois os executivos dos grandes fundos de investimento não podem botar o dinheiro de seus clientes em países levianos. Afinal, os donos dos fundos são os aposentados do mundo desenvolvido. Quem nem se quer fazer com os brasileiros.
Enquanto isto, do lado de fora as militâncias estarão gritando diatribes contra Bolsonaro, hoje considerado o novo tirano, como se não tivesse subido ao poder numa eleição irretocável, do ponto de vista formal. O capitão não caiu de paraquedas na rampa do Palácio do Planalto, de arma em punho, como parecem quer crer esses ativistas. Eles agora têm mais um alvo.